
Em visita às ruas de Maceió, no dia 10 de novembro de 2010, encontramos um grupo de rapazes que estavam vigiando carros. Eles são chamados, popularmente, de flanelinhas por estarem sempre com um pano nas mãos para limpar os carros. Como já não tinha muito trabalho, conseguimos sentar num banco na orla que por segurança não vamos identificar. Lá estavam o Secretário Municipal de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, o assessor da Secretaria de Direitos Humanos, Ivair Alves dos Santos, dona Célia Maria dos Santos, da Pastoral Social da Arquidiocese de Maceió e equipe do jornal. Não foi difícil iniciar a conversa com os três rapazes que ali se encontravam. Todos eram usuários de crack e dormiam naquelas redondezas da praia.

Um deles, que vamos chamar pelas iniciais, DCM, já estava naquela região há três anos. Seu trabalho era vigiar e lavar os carros dos turistas. De onde conseguia dinheiro para manter a compra do crack que era consumido durante o dia. “Eu trabalho durante a noite e de dia não consigo dormir, só fumando o diabo desse crack. Comecei a fumar maconha quando tinha 16 anos. Mas só foi experimentar uma pedra e fui direto. Já estou nessa há três anos”, declara DCM.
Como em quase todas as histórias, as desses rapazes são bem parecidas. Tudo começa com uma fumada de maconha e depois chega ao crack. “Ninguém me ofereceu. Nós não somos crianças. A gente pega as coisas se quiser. Eu comecei com a maconha, depois veio o melado (pedra e a maconha). Depois do mesclado fui para a lata e não parei mais e estou nesta vida que você está vendo. Vacilou já era”, afirma DCM.
Muitas vezes, a rua é uma saída para não prejudicar a família. “Para não cometer novos erros saí de casa. Já faz aproximadamente uns três anos que estou na rua. Tenho uma filha de cinco anos, mas fazer o que da vida? Não tenho como sair. Só consigo sair se alguém me ajudar. Não gosto dessa vida. Vivo assim, mas não gosto. O que fazer”? questiona DCM.
A saída para esta situação existe. “Arrumar um abrigo onde a gente possa trabalhar, se alimentar bem e tomar remédios para não voltar nessa vida, pois aqui não tem futuro”, declara DCM.
Sua rotina é lavar carro e amanhecer o dia acordado. “Eu tenho medo de morrer aqui. Fumo 20 a 30 pedras e lavo, em média, sete carros por dia e chego a tirar um bom dinheiro que vou entregando na mão do traficante”.
Após algumas intervenções ficamos mais algum tempo com aquele grupo que ainda estava com medo da situação. Marcamos de nos encontrar no outro dia e o fizemos. Isso possibilitou que DCM se encontrasse com o prefeito José Cícero Soares de Almeida e participasse da formação de novos educadores de rua da Prefeitura. Atualmente, DCM está se tratando e esperamos que ele siga o conselho que deixou a todos.
“O conselho que dou é que volte para a família e vá trabalhar. O futuro para quem entra nessa vida é morte ou cadeia”.
Edição N° 193 - Dezembro de 2010
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