Em plena terça-feira (24/08), Congresso Nacional esvaziado, pessoas em situação de rua, organizadas pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), movimentaram as ruas da esplanada dos Ministérios e ocuparam o Palácio do Planalto. A manifestação foi a 2ª Marcha Nacional da População em Situação de Rua, em Brasília. A primeira aconteceu em 2001, em conjunto com o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR). Na época, os movimentos reivindicaram um encontro com o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, mas o pedido foi ignorado.
De vários lugares do país
Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Vitória, Belo Horizonte, Fortaleza e do Distrito Federal mandaram suas representações.
Emerson Ramires dos Santos, 33 anos, deixou seu trabalho com venda de frutos do mar, numa feira livre em Curitiba, para fazer parte da manifestação. “Estou na rua, mas tenho dignidade. Estou aqui reconhecendo que este governo foi o único que abriu as portas para a gente, mas também para manifestar que existe muito a se fazer”.
O ponto inicial de concentração foi a Catedral de Brasília. A música, a teatralidade, o canto, a cultura da rua de várias localidades se fundiram em uma única manifestação. O coordenador nacional do MNPR, Samuel Rodrigues, mandou seu recado em alto e bom som. “Pisem firme neste chão, pois este local não é apenas a sede do poder, é também nossa sede. Precisamos ocupar esta cidade”. E mais, “saímos das ruas das grandes capitais do Brasil e colocamos os pés nas ruas do Distrito Federal para mostrar nossa cara, para mostrar o tratamento que recebemos nas grandes cidades desta nação”.
A passeata percorreu as ruas dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, dos Esportes, pela Secretaria de Promoção Racial rumo ao Congresso Na-cional. Lá, nova parada. Pelo alto falante, o MNPR mandou seu recado, embora a Casa estivesse praticamente vazia. Davi Vieira Araújo, do Ceará, foi contundente. “Não viemos aqui pedir nada, viemos cobrar nossos direitos. Viemos denunciar as mortes que continuam acontecendo”.
O coordenador do MNPR no Rio Grande do Sul, Sérgio Carvalho Borges, colaborou com Davi em sua manifestação. “Estamos aqui por todos aqueles que sofreram violências, estão sofrendo violência e pelos muitos que ainda a enfrentarão de forma silenciosa em suas cidades”. A coordenadora do movimento na Bahia, Maria Lúcia Santos Pereira, lembrou a promessa feita em 2001 de que a população em situação de rua voltaria a Brasília. “Prometemos e aqui estamos. Viemos mostrar nossa unidade”, afirmou.
Para Anita Gomes dos Santos, da coordenação do MNPR em Belo Horizonte, o fato de o governo ter aberto as portas do palácio para receber a população em situação de rua e dialogar de igual para igual no processo de construção de políticas é um reconhecimento “de que somos seres humanos”.
A matéria na íntegra e fotos da passeata você pode conferir em www.falarua.org
Gilberto assume compromisso com a habitação para população de rua
O Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho, se comprometeu, durante encontro com o Movimento Nacional da População de Rua, no Palácio do Planalto, na terça-feira (24/08), a empenhar esforços, nesta reta final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e trabalhar para consolidar pontos fundamentais que deem mais segurança e estabilidade à população em situação de rua. “Temos que manter nestes quatro meses nossa relação bem intensa para que possamos fechar com chave de ouro este governo”, afirmou.
Um dos pontos citados por Carvalho foi a questão da moradia para a população em situação de rua. Padre Júlio Lancellotti lembrou o fato de o presidente cobrar todo ano, nos tradicionais encontros de final de ano com a população de rua, um projeto na área de habitação. “O presidente Lula não vai ficar feliz se, em dezembro, não tivermos caminhado nada na questão da Habitação. Se não tivermos nada a apresentar será uma vergonha”. O Chefe de Gabinete do presidente concordou. “Padre Júlio tem razão. Vamos levar uma baita bronca do presidente se não apresentarmos nada a vocês”.
Diante de denúncias de violações de Direitos nas capitais brasileiras, por conta das obras já iniciadas para receber a Copa do Mundo de 2014, feitas principalmente por representantes do MNPR do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, Carvalho assumiu outro compromisso, em nome do presidente Lula. “Não vamos permitir. Deixo aqui nosso compromisso”.
A ideia, elaborada por Padre Júlio, é de que o processo de estruturação da Copa seja inclusivo e não excludente. Por isso, lançou a sugestão de que a população em situação de rua seja preparada como agente de turismo. Carvalho se entusiasmou com a proposta. “Vamos discutir com o Ministério do Turismo. A ideia é excelente, para que não sejam afastados, mas integrados no processo que vai mostrar ao mundo o que é o Brasil”.
O coordenador nacional do MNPR, Anderson Lopes Miranda, fez um apelo às autoridades presentes. “Precisamos que o decreto que institui a Política Nacional para a população em situação de rua seja transformado em lei. Isso para impedir que a Política Nacional seja anulada pelo próximo presidente que vier”. O debate aconteceu logo após a 2ª Marcha Nacional da População em Situação de Rua, em Brasília. Cerca de 200 pessoas foram recebidas pelo ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, pela ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, pelo chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Gilberto Carvalho, no Palácio do Planalto, e pelo assessor do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Diogo Santana.
Edição N° 191 - Setembro / Outubro de 2010
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