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Alderon Costa

Em Brasília... Catadores sofrem violência



Não bastasse morar ao relento e trabalhar sem condições mínimas de segurança, famílias enfrentam um verdadeiro massacre efetivado pelo poder público local que organizou uma subsecretaria, a Sudesa, para realizar as ações de limpeza desses espaços. O coordenador do Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis do DF, Roni Alves da Silva declarou – “Temos passado por diversos massacres. Não existe ação pública para inclusão das pessoas que moram nas ruas e no cerrado.



No centro de Brasília, a poucos metros da Esplanada dos Ministérios, mora um grupo de oito famílias que vivem da catação de material reciclável. As árvores tomam o lugar dos viadutos de São Paulo. As famílias ficam embaixo das grandes copas e, ao lado, há espaço reservado para a separação do material. Nesse local, encontrei fogões, colchões, panelas, crianças e muito material para reciclar.

Lá mora Rosa Maria Alves dos Santos, de Pernambuco, que há 27 anos trabalha no local. Outra moradora, Maria do Socorro Crispim de Souza, veio da Paraíba e tem uma casa em outro bairro, no Riacho 2, mas depende do trabalho de reciclagem para sobreviver. Para Socorro, o trabalho e a moradia de muitos estão embaixo dessas árvores. “O nosso problema é moradia e trabalho. Não adianta dar o local para trabalhar sem moradia e não adianta dar moradia sem ter o lugar para trabalhar”, afirma Socorro. Já para Edson Alves do Nascimento, que ficou sem sua carroça por conta da última operação da Sudesa – Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água, a situação é precária e triste. “Estamos sem a condução para trabalhar, pois levaram nossas carroças”, reclama Nascimento.

“Quando nos organizamos para não sair daqui, iniciou-se o massacre. Eles começaram a bater em todos e levar as crianças para abrigos”, denuncia Socorro. Maria de Fátima Pereira dos Santos, que também mora no local, está com medo por causa de seu filho. “Essa situação é difícil, porque a gente tem criança e não tem onde ficar e o pessoal da Sudesa está querendo levar os nossos filhos. Quem já teve filhos retirados não se conforma”, comenta Maria de Fátima.

Viviane Lau de Araújo mora embaixo de uma árvore há 17 anos, tem cinco filhos, sendo que uma filha fica com a mãe em Pernambuco, um filho ainda está com ela e três foram levados para um abrigo. “Se levaram meus filhos deveriam levar todo mundo que está neste cerrado, reclama Lau. Para Socorro, a solução é possibilitar um local para trabalho e para alguns que moram ali, lotes para morar. Para José Airton Rodrigues dos Santos, que mora embaixo da árvore, também, há 17 anos, a situação está cada vez pior. “Eles vêm aqui e não deixam a gente trabalhar, não dão um galpão para nós e nem um lote”, declara Airton.

As operações, segundo o Major Raimundo Nonato Cavalcante, responsável por esta subsecretaria, são uma forçatarefa de vários órgãos. O Ministério Público foi convidado a acompanhar as operações, mas não aceitou, declarou o Major. Segundo ele, não há nenhuma violência por parte dos agentes e as pessoas que ali estão, na sua maioria, têm problemas com a justiça. Questionado porque elas estão em liberdade, justificou que são infrações de menor potencial ofensivo para o Major, como se trata de uma força-tarefa é impossível qualquer tipo de violência ou apropriação de bens e documentos.

O Movimento dos Catadores, segundo Alves, está se organizando, mas ainda falta colaboração para mudar essa situação. O que há é um higienismo com ações que tomam todos os materiais recicláveis dos catadores, inclusive celulares e documentos.



Para a professora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (Neppos) da Universidade de Brasília, Camila Potyara, a retirada de crianças é uma das práticas mais antigas que vêm dos anos 90. “Para o governo do Distrito Federal, morar na rua caracteriza situação de risco e a maioria dos juízes, assistentes sociais e pessoas do governo acham que isso é legítimo e é mais saudável para a criança ficar nos abrigos. Mesmo que, para isso, tenham que separar famílias estáveis e que vivam bem”, afirma Potyara, que fez sua dissertação de mestrado sobre a situação desses catadores.



Edição N° 186 - Fevereiro e Março de 2010

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