Representantes do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) visitaram a Cooperativa Catamare em apoio à ocupação de um galpão para reciclagem de materiais reaproveitáveis. Representantes do MNPR participavam da I Feira Nacional da Gestão Estratégica e Participativa da Saúde, promovida pelo Ministério da Saúde de 30/6 a 4/7, em Brasília, e aproveitaram a oportunidade para conhecerem a cooperativa e apoiarem a coordenadora Antonia Cardoso Abreu, membro do MNPR. A cooperativa fica na cidade satélite de Ceilândia Norte.
Antonia Cardoso Abreu, 35 anos, de Terezinha (Piauí) foi para Brasília, em 2000, para, segundo ela, tentar se refugiar da miséria. Ao chegar à Capital Federal, sua situação piorou. “Daí que eu descobri que se passar um problema não adianta fugir deles. Eles vem para a gente sentar, parar, pensar, encarar e resolvê-los”, declarou Antonia. Primeiro, começou dividindo o aluguel com um rapaz, pai de seus três filhos. Depois, não deu mais conta de pagar o aluguel sozinha e foi despejada. “Não vi outra opção a não ser morar numa ocupação”. E na luta pela sobrevivência, Antonia descobriu na reciclagem uma maneira honesta e criativa para cuidar de seus filhos e gerar renda para mais de 75 famílias.
Segundo Lúcia Lopes, assistente social e professora da UnB, o que essas mulheres estão fazendo, atualmente, é parte de um longo processo de luta. “Conheci Antonia, em 2005, quando estava no MDS e trabalhava com a população em situação de rua e com catadores de materiais recicláveis. Convidei-a para participar do I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua, representando o DF. Naquele momento, o grupo ao qual ela pertencia estava reunido na Cooperativa Cataguar e, também, lutava por moradia”, lembra Lúcia.
Nessa época, Antonia estava morando na ocupação da Rua Vida Feliz na cidade satélite Guará II e formaram um grupo de catadores, posteriormente, removidos do Guará para a Ceilândia. Apesar disso, o grupo continuou junto e formou, em 2005, a Catamare para trabalhar com a catação. “Nós fazíamos a catação na rua e trazíamos para um lote de uma das cooperadas, que nos emprestou por dois anos e sete meses para fazermos a separação”, lembra Antonia. Sem a possibilidade de continuar no lote, o grupo começou a procurar outro espaço e a negociar com o Governo do Distrito Federal (GDF) uma área para realizar a reciclagem.
A Catamare luta há muito tempo junto ao GDF por um espaço e o grupo encontrou, próximo ao local atual um galpão abandonado.
Provavelmente seja da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Segundo Antonia, “quem construiu esse espaço não conhecemos, mas estava desocupado, abandonado, cheio de lixo e como a gente trabalha com reciclagem, estávamos na necessidade e sem espaço para trabalhar decidimos ocupá-lo”. As 35 mulheres que trabalham no local afirmaram estar dispostas a negociar.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Dados de Brasília da Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2007/2008.
Foram identificadas 1.734 pessoas em situação de rua;
• A população em situação de rua é predominantemente masculina (78,5%).
• Mais da metade (60,3%) das pessoas em situação de rua adultas entrevistadas se encontra em faixas etárias entre 25 e 44 anos.
• 47,5% não concluíram o primeiro grau.
• 39,5% das pessoas em situação de rua se declararam pardos. Declararam-se pretos 28,3% e se declararam brancos 24,5%.
• Os principais motivos pelos quais passaram a viver e morar na rua referem-se ao desemprego (14,8%); alcoolismo e/ ou drogas (9,7%) e problemas com familiares (7,1%). Porém 43,1% não responderam a esta questão.
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Edição N° 189 - Julho de 2010
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