“Não vejo a hora de chegar em casa.”

Numa parada para um cafezinho, na Rodovia Fernão Dias, região de Atibaia, São Paulo, encontramos Ruan de Araújo Nascimento. Ele estava sentado num banco do lado de fora do café, acompanhado de dois cachorros, que pareciam ainda filhotes. Eram Thor e Fênix. Mais distante estava um carrinho, desses que usamos para fazer compras nos supermercados. Ao passarmos por ele, nos cumprimentamos e começamos a conversar sobre os cachorros.

Logo no início da conversa, me contou que estava vin- do de Salvador, BA. Como assim, indaguei, com carrinho e dois cachorros? Com largo sorriso me respondeu que estava vindo a pé.

A pé?

Ainda me assusto ao ver pessoas fazendo essas longas distâncias a pé, ainda mais, com dois cachorros e um carrinho. Logo vem a preocupação de como aguentam caminhar tanto, sem sapatos e roupas adequados. Sem provisão de alimentos e água. Sem dinheiro. Só com o destino na cabeça, muita determinação e confiança. No trajeto é que vão surgindo as respostas.

Perguntei se poderia gravar e publicar essa história. Ele de imediato autorizou. Pintor, Ruan foi convidado por uma pessoa para trabalhar em Salvador. Entretanto, depois de algum tempo o trabalho não deu muito certo. “Me iludi e acabei ficando rodado lá na Bahia.” Depois de algum tempo, mesmo trabalhando – como acontece com muitas pessoas, não recebia e a situação ficou insustentável. Saiu do trabalho e acabou sendo levado para um albergue de Salvador.

“Estava sem dinheiro, os cachorrinhos estava comigo e o negócio é fé em Deus e canelar”, desabafou Ruan. Após um mês nesta situação, resolveu voltar para sua cidade, onde mora a sua família. Sem dinheiro e com os dois cachorros não iria conseguir voltar de ônibus, daí resolveu “pegar o trecho”.

Quando nos encontramos, no dia 14 de fevereiro de 2025, já estava caminhando há dois meses e meio. Seu objetivo é chegar em Santos, mais especificamente, na Praia Grande, onde mora sua Mãe, dona Cristina Aparecida. Hoje, dia 24 de fevereiro, já deve estar chegando. “Não vejo a hora de chegar em casa”, assim esperamos. Esse é um trecheiro.

Acompanhe essa história no @rede_rua

Edição Nº 300 - Janeiro / Fevereiro de 2025