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Regina Reinart

“O pobre morrer, às vezes é um alívio?”


“Entre a vida e a morte, a vida é mais forte!” Este foi o lema da via-sacra do povo da rua, realizada no dia 2 de abril, sexta-feira santa de 2010. Sueli Aparecida Correa o repete com voz alta e convicta. Ela conta: “Agora estou numa moradia provisória. Mas a luta continua para termos mais direito e moradia definitiva! Esta caminhada nos ajuda. Só é triste ver que muitos não têm condições físicas ou psicológicas para estar hoje aqui”.

Sua colega Maria Aparecida Silva partilha: “Tem oito anos que eu acompanho esta caminhada que é um marco de paz! O governo deveria olhar mais para gente. Kassab deveria ter mais compaixão pelo povo da rua. Ajudar mais! Dar mais moradia! O povo da rua não quer só albergue, não quer só comida, quer moradia também! A comida é no primeiro lugar, mas a moradia é importante. O que leva o povo para a rua é não ter emprego, não ter moradia e, também o problema de saúde”.

 


A caminhada levou centenas de pessoas do Largo São Bento à Praça da Sé, cantando os seus hinos: “Com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez, lugar... viemos pra incomodar, com a fé e a união, nossos passos um dia vão chegar”.

A marcha prossegue e o povo canta: “Fazer justiça séria pra acabar com a miséria do povo que é sofredor”. Edivaldo Santista faz questão de dar uma entrevista : “Aqui nós temos muita discriminação. Como diz Martin Luther King: ‘O homem aprendeu a voar com os pássaros, o homem aprendeu a nadar com os peixes, mas ele não aprendeu a ser irmão’. Eu sei que tem muita pobreza. Participo aqui porque temos que ter muita união entre nós. Se todos estivessem aqui, aí teria muita chance para melhorar”.

Fazer memória da morte de Jesus significa também fazer memória do povo da rua. Lembramo- nos daquelas vítimas que foram mortas nos massacres deste país, das cidades de Porto Alegre até Fortaleza, de Salvador até Belo Horizonte e as de São Paulo, cujos nomes estavam escritos na cruz. “O pobre morrer, às vezes é um alívio?”, pergunta Regina Maria Manoel, uma das coordenadoras da via-sacra, que destaca que São Paulo tem quase 15.000 pessoas na situação de rua. “Será que esta cidade não é capaz de criar políticas públicas para estes, diante de 15 milhões de pessoas que tem na Grande São Paulo?

 

 “Ele não aprendeu a ser irmão”


Vânia Costa, da Comunidade da Trindade, veio de Salvador, especialmente, para participar da via-sacra. “Aqui é uma manifestação religiosa e, também, política. Mostra que o governo brasileiro deveria ter um outro olhar com a população da rua que não é vagabunda, nem drogada. Ter um olhar diferenciado! Não só ser assistencialista, isso só deixa o povo ficar na mesma situação onde está. Mas fazendo que o povo também dê o seu próprio passo”, comenta Vânia.

Na Catedral, foram expostos todos os cartazes em volta da cruz e cantamos: “Neste tempo tão difícil, a cidade vai ouvir o grito dos oprimidos, pra justiça construir. Leva eu, povo da rua! Somos o povo de Deus, povo da rua, nós também temos direito, nossa luta começou, pra parar não tem mais jeito”.



Edição N° 187 - Abril e Maio de 2010

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