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Saída da rua pelo estudo

Alderon Costa

A saída da rua passa pela criação e ampliação de programas articulados de moradia, trabalho e saúde e um eficiente sistema de acompanhamento. A educação, cultura e esporte ainda estão se aproximando dessa realidade. O Vida no Trecho, desta edição, traz a história de duas pessoas que saíram da rua pelo caminho da educação e, propõe esse desafio: de se pensar a educação dentro das políticas públicas para quem está em situação de rua.

Orlei de Jesus Santos, 25 anos, nasceu em Itabuna (BA), filho gêmeo, cujo irmão foi criado pelos pais e ele pela avó. “Na verdade, morávamos na mesma rua e eu vivia nas duas casas”, afirma Orlei. Com 13 anos, perdeu a avó, depois a mãe e, em seguida, saiu de casa.

Caminhou por várias cidades da Bahia e parou em Salvador, onde morou alguns anos na rua. “Em Salvador tenho alguns familiares, mas não me acostumei a morar com eles, queria ter o meu dinheiro, comecei a esconder o nome para não me descobrirem”, afirma Orlei. De lá foi para as ruas de Brasília, na época em que o índio Galdino foi assassinado e de lá veio para São Paulo. “Acabei chegando em São Paulo com 19 anos, em 2003, e fui morar um tempo no Albergue Pedroso”.

Marivaldo da Silva Santos, 35 anos, nascido em Feira de Santana (BA), filho mais velho de uma família de doze irmãos. “Na época, parei de estudar preocupado com meus irmãos. Meu pai é pedreiro, minha mãe dona de casa, não poderia continuar gastando comigo porque tinha meus irmãos”, relembra. Então, resolveu sair de casa, pois, segundo Marivaldo, é costume na região, depois dos 14 anos, as pessoas pararem de estudar. Veio direto de Feira de Santana para São Paulo. Morou oito anos em São Paulo e só depois foi para as ruas. “Cheguei em São Paulo com 19 anos e a noite me seduziu.”

Segundo ele, foi um processo longo, até ficar desempregado e conhecer a realidade de quem vive nas ruas. “A primeira vez que me deparei na rua, estava na Praça da República, em novembro de 2002. Até aquele momento não tinha visto que existiam pessoas nas ruas. Não enxergava mesmo”, afirma Marivaldo.



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“A minha saída da rua

foi uma construção. Não

foi do dia pra noite”

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Em 2003, Orley e Marivaldo se conheceram no Albergue Pedroso. “Ele sempre estava com um livro na mão e eu também sempre gostei de ler e andava com um caderno e caneta. Então, a gente se aproximou por conta disso”, conta Marivaldo. “Em 2006, terminei o ensino médio, fiz alguns bicos até prestar o concurso para agente de saúde”, lembra Orlei.

Os dois além do estudo regular começaram a fazer cursos oferecidos pela Prefeitura, na Casa da África e se candidataram a bolsas de estudos em Cuba por meio do Educafro. Depois de tudo pronto, faltando 60 dias para viajar, o governo cubano instituiu uma lei que estabelecia a idade máxima de 25 anos e Marivaldo já estava com 30 anos.

Orley foi para Cuba em 2008. “O primeiro ano foi complicado, o clima instável, a comida diferente, as pessoas bem pobres e sofridas. Mas o sistema de ensino não deixa a desejar e isso é o suficiente”, comentou Orley.



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“A construção de

saídas é possível,

mas não a curto

prazo”

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Marivaldo entrou no Programa Agente de Saúde de Rua e, atualmente, frequenta a Faculdade de Serviço Social. “Minha formação depende da rua”, lembrou Marivaldo ao dizer de seu compromisso com a mudança dessa realidade.

Para Orlei, a construção de saídas é possível, mas não a curto prazo. “Primeiro tem que politizar as pessoas, conscientizar que o fato delas estarem nas ruas não quer dizer que elas estão excluídas”, concluiu Orlei.

“A minha saída da rua foi uma construção. Não foi do dia para a noite, mas foi na base de muita paciência, apoio de pessoas que acreditaram que era possível. As pessoas de fora viram um potencial em mim que nem eu mesmo acreditava”, finalizou Marivaldo.



Edição N° 188 - Junho de 2010

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