
Pedro Silvério da Silva tem 52 anos e nasceu no Sítio Colombina, na Boca da Mata em Alagoas. Veio para São Paulo com cinco anos de idade. Quando criança foi coroinha na Igreja Santa Rita de Cássia dirigida pelo padre Maciel e tem boas lembranças dessa época.
Na juventude, iniciou um período em que roubava motéis, fábricas, mercados, mas não gostava de roubar dos pobres. Por causa disso, ficou preso no Carandiru, em 1979, quando tinha 20 anos. Como vivia-se, ainda, período da Ditadura Militar, Pedro conheceu a “pendura”, um instrumento de tortura utilizado para que os prisioneiros entregassem seus parceiros. Pedro nunca entregou ninguém, pois sabia que os delatores morreriam na prisão. Durante todo o período em que esteve preso contou com visitas e apoio da família, especialmente de sua mãe.
No início ficou muito revoltado com o que aconteceu, não rezava, não tinha fé e nem esperança. Após muitas mudanças de presídio e experiências difíceis, começou a mudar sua postura, avançou na escolaridade, fez cursos como pintura de paredes, marcenaria, dentre outros, e trabalhou nas tarefas de faxina do presídio. Além disso, passou a fazer poesia e buscou aproximar-se da religião.
Uma importante lembrança do presídio é a de um quadro que comprou de outro detento por cinco maços de cigarros. “Um rapaz chamado Nenê fez uma obra de arte e eu a coloquei em minha cela. Sentia que o significado da obra era de grande valor, mas sua fama era de que estava preso”.
Pedro saiu da cadeia há quatro anos e “graças a Deus e com uma promessa muito grande que fiz para Nossa Senhora, de fazer um manto do tamanho dela. E prometi à minha mãe que nunca mais voltaria ao crime. É uma forma de agradar a mim mesmo e à minha família”, comentou.
O problema principal que Pedro enfrenta é que após esses anos em liberdade ainda não conseguiu ajeitar sua vida. Como não consegue trabalho e não quer voltar para a casa da mãe, a saída tem sido morar nas ruas ou em albergues. Pedro observou que não consegue se adaptar as regras rígidas dos albergues, onde as pessoas são tratadas como crianças, mas morar na rua também não tem sido fácil. De inicio, viveu em malocas, mas apanhou e concluiu que não dá para ter amigos nessas condições.
Pedro frequenta o Refeitório Comunitário do Povo da Rua (Rua Penaforte Mendes, 56), mas sai durante o dia para ganhar algum dinheiro na jardinagem, varreção das ruas, ou levar sacolas pesadas próximo ao Mercado Municipal no Parque Dom Pedro. “Isso já é alguma coisa. Com as pessoas paradas não vai acontecer nada mesmo”.
Por mais dificuldades que esteja passando, Pedro considera que aprendeu muita coisa com tudo que viveu.
Para Pedro, Deus dá o livre arbítrio aos homens. “As vezes, a gente desvia do caminho que Ele nos colocou, mas esse desvio é a gente que faz”. Toda religião “tem sua forma, mas todas falam dos ensinamentos de Deus e ensinar os caminhos para chegar até Ele, é o mais difícil. E o caminho para chegar a Deus é ter consciência de que ele é o amor. Ele só quer alguém ao lado dele se praticar o bem e quer todos como irmãos e como parceiros do dia a dia”.
Pedro entende que as pessoas ficam em situação de rua por várias razões: “drogas, pinga, desquilíbrio familiar, saída de presídio e, também, por falta de trabalho, mas todos na rua têm a possibilidade de encontrar um caminho”.
Pedro está muito feliz, atualmente, com uma oportunidade inesperada de trabalhar como vendedor da revista OCAS´ e considera que este trabalho será muito importante na sua busca de um caminho.

Edição N° 197 - Maio de 2011
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