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- Só se deixar passar batom!
Uma história de superação do crack na reconquista de si e de suas perdas. “Eu vim aqui em São Paulo para conhecer a Cracolândia. Trabalhava. Sou operadora de empilhadeira. Tive um problema com minha mãe e não consegui viver com ela. Lá em Rio Claro, já tinha começado a usar crack. Vi pela televisão e fiquei curiosa de conhecer os ‘psico e os ‘nóias´. Eles com aquelas cobertas vagando pelas ruas me deu muita curiosidade. Conheci a Cracolândia, mas acabei conhecendo, também, o Centro de Acolhida Santa Cecília”. Assim começou a conversa com Patrícia Muniz da Silva de 39 anos, natural de Rio Claro (SP) e que esteve em situação de rua por quatro meses e agora, com o trabalho do Centro de Acolhida está num processo de saída da rua e reestruturação de sua vida. “Já tem um mês que não estou usando droga. Mas, estou tendo um acompanhamento e não estou na rua. Moro num apartamento com um companheiro, estou fazendo entrevistas de emprego, pois quero trabalhar e estudar”, declarou Patrícia. As causas de ela ter chegado aonde chegou podem ser várias, mas a que mais a incomoda está relacionada a conflitos familiares, em particular, com sua mãe. Ela fala de seus três filhos com muito carinho, mas o pequeno de quatro anos ela o quer de volta. “Eu quero de volta o que é meu”! Patrícia se sentiu acolhida no Centro e se lembra das conversas com os funcionários. “As meninas ajudam a gente. Elas não ajudam só a ter um espaço para você passar o dia para não ficar na chuva ou no frio. Se você precisa de um abraço, um conselho, elas dão. Meio que viram a família da gente. Quando precisa, também, elas deixam a gente de castigo. Não deixa tomar banho, entrar no espaço, tem umas normas aqui também”, lembrou Patrícia. Quando perguntada o que a ajudou a sair dessa situação, a resposta vem fácil. “Para falar a verdade mesmo, foi a acolhida das meninas (funcionárias) aqui do Centro. Se você conversa com a família, eles não entendem isto. Aqui as pessoas estão preparadas para receber esses `loucos´, esses usuários de drogas, os ‘psico´, os ‘nóias´, os ‘radiados´ e os bêbados”. Insisti na pergunta e veio outra resposta para completar a primeira. “Quer saber de uma coisa, eu voltei a me amar. Eu preciso perdoar as pessoas e eu também”, concluiu Patrícia. Ao solicitar para tirar uma foto, ela reagiu: “Só se você deixar passar batom primeiro. Mulher é assim!”. Edição N° 196 - Abril de 2011
- “Saúde, trabalho e habitação”
Nos dias 29 e 30 de março, aconteceu o II Seminário de População em Situação de Rua sobre “Saúde, trabalho e habitação” no Centro Arquidiocesano de Pastoral em Salvador. Participaram deste evento, representantes dos governos das três esferas, de organizações parceiras e do MNPR. De início, foi apresentado o Caderno de Orientações para a Implantação e Funcionamento dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social para a População em Situação de Rua (Creas Pop Rua) que ainda receberá contribuições. Para Adauto Leite de Oliveira, membro do Fórum Permanente da Bahia, o mérito desse trabalho está no fato de ter sido realizado com a população de rua. Também foram apresentados os resultados da Pesquisa realizada em Salvador em 2010 pela Universidade Federal da Bahia e pelo Movimento da População em Situação de Rua de Salvador. Para a profª. Renata Meira Veras, coordenadora da pesquisa chamou a atenção os problemas familiares como causa de estarem nas ruas, falaram do desemprego, dos problemas de saúde e da questão da falta de documentos pessoais para conseguir emprego. “A partir desses resultados vamos elaborar um plano de atuação com a população de rua”, concluiu Renata. Na discussão sobre trabalho, Anderson Lopes, da coordenação no MNPR, foi categórico em dizer que o trabalho traz dignidade para as pessoas em situação de rua. Damião Ferrari do MNPR/CE, destacou o problema da escolha do tipo de cursos de capacitação e as condições das pessoas que vão fazer esta capacitação. “Não perguntam qual é a nossa necessidade, pois não temos condições de morar, de transporte e de comer”, lembra Damião. Na habitação, foram levantados vários programas, mas ainda precisa ser construído um programa de moradia que inclua a população em situação de rua. Segundo Marli Carrara, da União Por Moradia Popular da Bahia, não existe casa a custo zero. A população de rua tem que se inserir na luta por moradia. “Vem para luta de cabeça erguida e nunca diga eu, mas aprendam a dizer o nosso movimento quer isto”, declarou Marli. Iveline Hardnan, diretoria de programas e projetos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia, defendeu a criação pelo governo de um parque imobiliário próprio para o uso da locação social e defendeu a visibilidade dessa população. Thomas Melo, representante do MNPR/PR apresentou a experiência de Curitiba. Segundo ele, na cidade existe a possibilidade da população de rua conseguir entrar no programa de moradia. Na mesa da saúde, a questão é gravíssima. Segundo Henrique Peregrino, da Comunidade da Trindade, a pessoa de rua é barrada já na entrada do posto de saúde pelos vigilantes. “Tem também o problema da documentação, pois sem documentos não se pode tratar”, relata Henrique. O problema da alta hospitalar foi unânime que não existe uma retaguarda para o paciente continuar seu tratamento. Para a representante do Ministério da Saúde, dra. Jacinta de Fátima Senna da Silva, a saúde é um direito, mas só acontece mediante políticas públicas intersetoriais e articuladas. A avaliação do seminário, segundo Maria Lúcia Santos, do MNPR local é que todos ficaram atentos, perceberam que várias vozes se uniram, mas, principalmente, porque provocou inquietação. “Foi interessante ver que o governo não imaginava que estávamos tão articulados e isto gerou essa inquietação e acho que agora é que o trabalho vai ser realizado, porque agora eles sabem que a população de rua tem voz”, finalizou Lúcia. (A pesquisa da UFBA sobre a população de rua de Salvador pode ser acessada no site www.rederua.org.br ) Edição N° 196 - Abril de 2011
- Pastoral lança livro sobre população de rua
A Pastoral do Povo da Rua lançou no dia 10 de fevereiro na Casa de Oração, em São Paulo, o livro “Povo da Rua, Povo de Deus” editado pelas Edições Loyola com apoio da Rete Radié Resch di Quarrata (Itália) e Editoração Eletrônica Mik Design. Numa cerimônia de confraternização, entre os presentes, alguns autores comentaram a importância e conteúdos desta publicação. Neste livro, há várias informações sobre processos sociais que levam às pessoas às ruas, seus sofrimentos; história, mística, metodologia de trabalho e reflexões bíblicas a partir do trabalho da Pastoral com as pessoas em situação de rua ao longo dos seus 30 anos de existência. Para Regina Maria Manoel, diferentemente do primeiro livro (Vida e Missão, Edições Loyola, 2003) que focou a realidade, as formas de resistência e organização da população de rua, neste há ensinamentos que podem ajudar diretamente agentes pastorais. “É uma produção coletiva que traça paralelos da história do povo da rua com a história do povo de Deus que está na Bíblia. Por exemplo, o povo que vive em êxodo, andando de lá pra cá, procurando o seu lugar. Depois tem a questão do exílio: o povo é deportado e mandado embora, que podem ser muitas situações, como a falta do trabalho, a falta de políticas, a questão da terra. São exilados da sua própria terra. E, também, há os profetas e profetisas da rua que dizem verdades que, às vezes não se ouve e nem se pensa”, explicou Regina. Conforme padre Júlio Lancellotti, esta publicação é um instrumento de trabalho e de aprendizado. “A chave dessa cartilha é o seguimento de Jesus, o itinerário bíblico, dar identidade ao trabalho dos agentes pastorais que é, principalmente, formar comunidade com o povo da rua. Isso exige grande humanização da vida”, disse padre Júlio. Segundo Luiz Kohara, outro autor do livro, “é muito importante fazer o resgate dos anos de 1980, porque recupera-se a história de uma prática que a Pastoral ainda continua, que é bastante vinculada à história da Bíblia, à luta que se vê dentro da Bíblia e também bastante relacionada com Jesus na perspectiva de justiça”. Isso fortalece o reconhecimento do valor da população que está em situação de rua e a vincula com a luta histórica da Bíblia”, afirmou Kohara. Edição N° 195 - Março de 2011
- Buenos Aires aprova lei para população de rua
Os portenhos terminaram o ano de 2010 com a conquista da lei para pessoas em situação de rua, aprovada por unanimidade no dia 13 de dezembro, após um ano de discussões entre ONGs, especialistas e vereadores da Comissão de Promoção Social da Câmara Municipal. Na Argentina, esta lei inaugura o primeiro marco legal para a proteção dos direitos das pessoas que dormem nas ruas e em albergues. A aprovação veio depois de um ano de militância e de um profundo processo participativo que contou com o apoio de diversas entidades sociais, técnicos, acadêmicos, pessoas em situação de rua, vereadores e da sociedade como um todo. Durante esse processo, a sociedade criou a “Rede na Rua” e organizou diversas manifestações, atos de protesto e discussões em diferentes meios de comunicação visando à aprovação da lei. A manifestação que teve maior visibilidade foi o cobertorzaço (frazadazo) , com a participação de, aproximadamente, 1500 pessoas revestidas de cobertores em passeata pelo centro da cidade. Elas protestavam por políticas municipais de atenção a essa população e pela imediata votação da lei. Dessa forma, a nova lei é uma conquista coletiva. Entre seus pontos mais fundamentais está a incorporação de pessoas que não dormem nas ruas ou albergues, mas que estão em situações de risco como presidiários e moradores de habitações muito vulneráveis como os cortiços. Embora tenha havido alterações em vários artigos do projeto de lei apresentado em dezembro de 2009, de acordo com Horacio Ávila, membro da ONG Proyeto 7, a lei aprovada "não perdeu o significado original dos princípios que fundamentaram o projeto". O projeto de lei foi elaborado conjuntamente entre vereadores e assessores do partido Proyecto Sur, a ONG Proyecto 7 e acadêmicos. O Movimento Nacional da População de Rua e a Rede Rua sediados no Brasil assessoraram a elaboração do projeto. Agora vem a tarefa mais difícil que é conseguir que essa lei seja regulamentada e cumprida. *Paula Rosa, socióloga, é colaboradora do O Trecheiro.
- Mobilização contra megaprojetos
Nos dias 26 e 27 de fevereiro de 2011, foi realizada a 3ª Jornada da Moradia da Digna, com o tema O impacto dos megaprojetos e as violações do direito à cidade , na PUCSP, no bairro do Ipiranga em São Paulo. Contou com a participação de, aproximadamente, mil e seiscentas pessoas de diversas regiões da cidade de São Paulo atingidas pelos megaprojetos. Esses grandes empreendimentos dizem respeito à intervenção urbana para ampliação da rede de transportes rodoviários, para realização de eventos esportivos ou de renovação urbana de áreas centrais por conta da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A 3ª Jornada foi precedida de préjornadas que ocorreram no período entre agosto a dezembro de 2010 no Par- que da Várzea, Jardim Oratório, Águas Espraiadas, Brasilândia e centro da cidade. Os palestrantes desta jornada destacaram a importância da moradia digna para o desenvolvimento humano, as violações do direito à moradia que ocorrem na cidade de São Paulo, no Brasil e no Mundo e suas legislações de proteção. Seminários Para Benedito Barbosa, membro da coordenação do evento, o objetivo principal da 3ª Jornada foi o de contribuir na efetivação do direito à cidade da população de baixa renda e no respeito à dignidade da pessoa humana conforme prevê a Constituição Federal. A ouvidora da Defensoria Pública, Luciana Zaffalon, disse que a jornada da moradia é um mecanismo de participação do cidadão que pode e deve intervir na gestão pública. Em uma das mesas, foi lembrado que nas Olimpíadas na Grécia e China e na Copa do Mundo na África do Sul fizeram remoções das famílias pobres dos seus locais para atender interesses imobiliários em detrimento do direito à moradia, assim como vem correndo com a construção do Rodoanel em São Paulo. Anderson Lopes Miranda (MNPR) chamou a atenção para a questão da violência. “A população em situação de rua tem sido tratada com truculência por policiais militares e guardas municipais e nos megaeventos são os primeiros a serem expulsos desses locais. O Movimento critica a mera construção de albergues, e defende uma verdadeira política habitacional para essas pessoas”. Na análise da temática, Ermínia Maricato, profª. da FAU-USP, destacou o percurso histórico da política urbana no último século e disse que apesar das conquistas nas legislações e dos debates sobre a reforma urbana que vem ocorrendo nos últimos anos, a situação das cidades vem piorando. Francisco Comarú, da Universidade Federal do ABC, falou sobre o impacto da construção do Rodoanel, obra que privilegia o transporte individual e passa por várias áreas de preservação ambiental e onde se concentra população de baixa renda. Ao final, Mariana Fix, do Laboratório de Assentamentos Humanos da FAU/ USP, destacou que os setores interessados nos megaprojetos trabalham a linguagem e a imagem com objetivo de comprometer a sociedade em geral de que a intervenção trará benefícios urbanos, econômicos e sociais a todos, daí tornando obras inquestionáveis. Para Raquel Rolnik, esses megaprojetos são vistos com muita euforia e entusiasmo pela sociedade, mas, em geral, não se discute quem se apropriará dos benefícios. Para os coordenadores, a 3ª Jornada atingiu os objetivos de mobilizar a população atingida pelos megaprojetos, articular os movimentos que lutam pelo direito à cidade e aprofundar a questão com os especialistas da questão urbana. Edição N° 195 - Março de 2011
- “Brás: mais uma Casa de Convivência”
“Uma grande festa marca a inauguração (1992), neste dia 20 de março, da nova Casa de Convivência do Brás. A casa foi construída em 8 meses pela Prefeitura de São Paulo. Vai estar sob a responsabilidade do Centro Social do Parque Fernanda (hoje Associação Rede Rua). O horário de funcionamento é de 2ª a 6ª feira, das 9h30 às 17 horas. Ali não será servido o sopão. Futuramente, a equipe pretende distribuir a sopa diretamente na rua”. ( O Trecheiro , Ano 2, nº 8, março/1992). Esta matéria de capa aponta que a finalidade principal deste serviço é, segundo Lenir Albuquerque, coordenadora da casa, um “local de passagem e de organização do povo da rua a partir de suas diferenças”. Assim, há 20 anos, já se falava de um perfil heterogêneo, de diferenças entre as pessoas em situação de rua, do uso provisório dos serviços e de suas condições de organização. A bem da verdade, há mais ou menos 30 anos, as Missões – manifestações de rua organizadas pela OAF-SP (de 1979 a 1991) estimulavam a participação e mobilização de pessoas em situação de rua como possibilidades de saídas e de superação da dura realidade das ruas e mostravam que o “povo da rua” tinha condições de se organizar. Essa casa de convivência, a primeira construída pelo poder público municipal, ficou conhecida como Casa da Erundina e funcionou até março de 2000. Permaneceu fechada por um bom tempo, foi ocupada por movimento de moradia e reaberta no final do governo de Marta Suplicy (2001- 2004) não mais como casa de convivência, mas como bagageiro e continua com esta destinação até hoje. Edição N° 195 - Março de 2011
- “Um lutador pela vida”
Evaristo Gonçalves tem 62 anos, nasceu no Brás em São Paulo, casou-se aos 24 anos de idade, teve três filhas e permaneceu casado durante 17 anos. Morou também em Blumenau onde nasceu sua filha mais nova. Depois de altos e baixos profissionais, familiares e de saúde com uma passagem pela rua de um ano e meio, há dois anos voltou ao trabalho. Dessa vez numa empresa de motoboy (TUF), desde 2009, a convite do dono, Danilo Santana, um amigo que fez na Comunidade da Igreja São Miguel Arcanjo. Ao iniciarmos a conversa, senhor Evaristo, falou da separação de sua esposa no início da década de 1990, período em que ficou desgostoso porque não conseguiu superar um mal-entendido familiar e perdeu o emprego. “Não gosto nem mesmo de tocar nesse assunto porque diz respeito a pessoas que morreram e sinto-me constrangido”. Senhor Evaristo disse que nunca aceitou a forma como se passou essa a separação, mas alegou que este não foi o motivo que o levou para a rua. Depois da separação, outra decepção, a companheira com a qual vivia, fazia dois anos, o traiu. Ele saiu de casa deixando tudo. “Nessa época, também, minha mãe faleceu no Sul e quando vieram me avisar ela já tinha sido sepultada. Isso me chocou muito e foi a gota d´água. Não culpo ninguém, mas fiquei magoado. Muita coisa foi se juntando. Tive, ainda, problemas comerciais, e não tive cabeça para dar a volta por cima”. A principal atividade que desenvolveu na sua vida profissional foi a de cerealista. “Comecei a trabalhar com 13 anos, fui empresário, tive indústria de empacotamento de bacalhau. Fui o primeiro a bolar bacalhau sem pele e sem espinha empacotado a vácuo. Na realidade, descobri um filão e como empresário cheguei a montar vários outros negócios. Por volta de 1984, fui para Blumenau para gerenciar uma cadeia de supermercados com 31 lojas e permaneci durante três anos e meio”. Depois, senhor Evaristo andou de emprego a emprego, começou a beber de forma mais regular, não tinha estímulo de viver e a mágoa sempre o acompanhava. Por volta de 2004, foi para a rua, período em que teve uma espécie de AVC, que comprometeu os movimentos em quase 80% e foi atendido no Hospital Vergueiro. Lá, ficou quase dois meses, encontrou uma enfermeira dedicada que lhe informou sobre a “Toca de Assis” na Mooca. Assim, ficou durante dois anos morando com os missionários que cuidaram de sua saúde com os quais fez amizade, aprofundou sua fé religiosa porque já era um católico praticante. Desde quando esteve na rua e depois na Toca de Assis, costumava frequentar a Igreja São Miguel e participava das atividades da comunidade. Lá fez amigos muito importantes para ele, como padre Júlio Lancellotti e Danilo, que lhe ofereceu além do trabalho, um lugar para morar dentro da própria empresa. Senhor Evaristo falou dos amigos que encontrou na rua. “Conheci advogado, dentista, desenhista, um que tocava violão e todos tinham uma historia, são pessoas super inteligentes e com talento. Eu acredito que ninguém vai parar na rua por opção de vida”. “Devo muito ao Danilo que me deu força para eu me recuperar socialmente. Hoje estou com muita motivação para viver, tenho certeza que não vai passar deste ano o encontro com minha filha. Não adianta querer tudo, as coisas acontecem com o tempo. Sou um lutador pela vida com vontade de viver e poder ajudar o próximo”. Edição N° 195 - Março de 2011
- Um sonho se concretizou
As pessoas que estão em situação de rua pensam, sentem, falam, sonham e escrevem, contrariamente ao que a sociedade pensa a respeito delas: “não-gente”, excluídas, decaídas, supérfluas, pessoas que devem ser retiradas da frente ou mesmo exterminadas. Na realidade, a concentração de renda, o desemprego, a violência, a fome, a mortalidade infantil, a miséria são resultados do desenvolvimento econômico que leva grupos sociais a se incluírem na sociedade dessa forma perversa. Preconceitos, discriminações, desconhecimento afastam grupos sociais diferentes e quebrar barreiras, estabelecer diálogos, abrir debate sempre estiveram presentes dentre as diversas inquietações do jornal no sentido de fazer valer o protagonismo das pessoas em situação de rua. Oficinas de redação nos serviços, convites pessoais, cursos e outras tentativas foram feitas. No entanto, após o massacre de agosto de 2004, nasceu a seção “Direto da Rua” como expressão do sonho do jornal O Trecheiro de possibilitar que as pessoas que estão ou estiveram em situação de rua pudessem se expressar diretamente com o leitor sem intermediários. O primeiro a escrever foi o Sebastião Nicomedes Oliveira que contribuiu de abril de 2005 a dezembro de 2008. O espaço foi consolidado e outros puderam dar continuidade. Agradecemos a todos os companheiros que contribuíram diretamente escrevendo nesta seção: Átila Robson Pinheiro (SP), Ednaldo Novaes (em memória), Jonas Ferreira Bahia (SP), Maciel Silva (RJ), MNPR Paraná, Salvador d´Acolá (SP), Samuel Rodrigues (MG), Sebastião Nicomedes Oliveira e Tula Pilar Ferreira (SP). Depoimentos O Trecheiro faz parte da nossa caminhada. O durante e o pós-rua. Para mim é uma satisfação tremenda fazer parte da família Rede Rua e do jornal onde tivemos o prazer de assinar as primeiras temporadas da coluna DIRETO DA RUA. São tantas emoçõessssssssssss. Sebastião Nicomedes Oliveira, o Tião O jornal O Trecheiro contribui para contar a minha trajetória e agrega informações de vários movimentos sociais na mesma luta social, a busca por direitos, as discriminações sofridas, as políticas públicas intersecretariais e transversais para a população de rua nos três níveis de poder. Espero que ainda... possamos ler no jornal O Trecheiro, notícias sobre a diminuição da violência contra a população de rua por parte de agentes da segurança pública que, impunemente, seguem violando direitos e destruindo vidas. Átila Robson Pinheiro Meus sinceros agradecimentos pela edição de julho de 2006, com uma linda foto minha feita pelo Alderon, na capa, por ocasião da viagem à África do Sul para participar da Homeless World Cup na cidade do Cabo. Foi difícil por ser uma mulher em meio a nove homens e a maioria de nós em situação de vulnerabilidade social. Vivências me ensinaram que em momentos difíceis nunca devemos virar as costas nem para os outros, nem para os problemas. É preciso saber resolver e tomar atitudes que beneficiam o grupo. Parabenizo o O Trecheiro pelos cuidados com nossos irmãos em situação de rua, denunciando maus-tratos e preconceitos. Agradeço por publicar meus textos, fotos em momentos de luta e participação que fizeram melhorar minha vida. Carinhosamente. Tula Pular Ferreira Edição N° 200 - Agosto de 2011