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- “Brás: mais uma Casa de Convivência”
“Uma grande festa marca a inauguração (1992), neste dia 20 de março, da nova Casa de Convivência do Brás. A casa foi construída em 8 meses pela Prefeitura de São Paulo. Vai estar sob a responsabilidade do Centro Social do Parque Fernanda (hoje Associação Rede Rua). O horário de funcionamento é de 2ª a 6ª feira, das 9h30 às 17 horas. Ali não será servido o sopão. Futuramente, a equipe pretende distribuir a sopa diretamente na rua”. ( O Trecheiro , Ano 2, nº 8, março/1992). Esta matéria de capa aponta que a finalidade principal deste serviço é, segundo Lenir Albuquerque, coordenadora da casa, um “local de passagem e de organização do povo da rua a partir de suas diferenças”. Assim, há 20 anos, já se falava de um perfil heterogêneo, de diferenças entre as pessoas em situação de rua, do uso provisório dos serviços e de suas condições de organização. A bem da verdade, há mais ou menos 30 anos, as Missões – manifestações de rua organizadas pela OAF-SP (de 1979 a 1991) estimulavam a participação e mobilização de pessoas em situação de rua como possibilidades de saídas e de superação da dura realidade das ruas e mostravam que o “povo da rua” tinha condições de se organizar. Essa casa de convivência, a primeira construída pelo poder público municipal, ficou conhecida como Casa da Erundina e funcionou até março de 2000. Permaneceu fechada por um bom tempo, foi ocupada por movimento de moradia e reaberta no final do governo de Marta Suplicy (2001- 2004) não mais como casa de convivência, mas como bagageiro e continua com esta destinação até hoje. Edição N° 195 - Março de 2011
- “Um lutador pela vida”
Evaristo Gonçalves tem 62 anos, nasceu no Brás em São Paulo, casou-se aos 24 anos de idade, teve três filhas e permaneceu casado durante 17 anos. Morou também em Blumenau onde nasceu sua filha mais nova. Depois de altos e baixos profissionais, familiares e de saúde com uma passagem pela rua de um ano e meio, há dois anos voltou ao trabalho. Dessa vez numa empresa de motoboy (TUF), desde 2009, a convite do dono, Danilo Santana, um amigo que fez na Comunidade da Igreja São Miguel Arcanjo. Ao iniciarmos a conversa, senhor Evaristo, falou da separação de sua esposa no início da década de 1990, período em que ficou desgostoso porque não conseguiu superar um mal-entendido familiar e perdeu o emprego. “Não gosto nem mesmo de tocar nesse assunto porque diz respeito a pessoas que morreram e sinto-me constrangido”. Senhor Evaristo disse que nunca aceitou a forma como se passou essa a separação, mas alegou que este não foi o motivo que o levou para a rua. Depois da separação, outra decepção, a companheira com a qual vivia, fazia dois anos, o traiu. Ele saiu de casa deixando tudo. “Nessa época, também, minha mãe faleceu no Sul e quando vieram me avisar ela já tinha sido sepultada. Isso me chocou muito e foi a gota d´água. Não culpo ninguém, mas fiquei magoado. Muita coisa foi se juntando. Tive, ainda, problemas comerciais, e não tive cabeça para dar a volta por cima”. A principal atividade que desenvolveu na sua vida profissional foi a de cerealista. “Comecei a trabalhar com 13 anos, fui empresário, tive indústria de empacotamento de bacalhau. Fui o primeiro a bolar bacalhau sem pele e sem espinha empacotado a vácuo. Na realidade, descobri um filão e como empresário cheguei a montar vários outros negócios. Por volta de 1984, fui para Blumenau para gerenciar uma cadeia de supermercados com 31 lojas e permaneci durante três anos e meio”. Depois, senhor Evaristo andou de emprego a emprego, começou a beber de forma mais regular, não tinha estímulo de viver e a mágoa sempre o acompanhava. Por volta de 2004, foi para a rua, período em que teve uma espécie de AVC, que comprometeu os movimentos em quase 80% e foi atendido no Hospital Vergueiro. Lá, ficou quase dois meses, encontrou uma enfermeira dedicada que lhe informou sobre a “Toca de Assis” na Mooca. Assim, ficou durante dois anos morando com os missionários que cuidaram de sua saúde com os quais fez amizade, aprofundou sua fé religiosa porque já era um católico praticante. Desde quando esteve na rua e depois na Toca de Assis, costumava frequentar a Igreja São Miguel e participava das atividades da comunidade. Lá fez amigos muito importantes para ele, como padre Júlio Lancellotti e Danilo, que lhe ofereceu além do trabalho, um lugar para morar dentro da própria empresa. Senhor Evaristo falou dos amigos que encontrou na rua. “Conheci advogado, dentista, desenhista, um que tocava violão e todos tinham uma historia, são pessoas super inteligentes e com talento. Eu acredito que ninguém vai parar na rua por opção de vida”. “Devo muito ao Danilo que me deu força para eu me recuperar socialmente. Hoje estou com muita motivação para viver, tenho certeza que não vai passar deste ano o encontro com minha filha. Não adianta querer tudo, as coisas acontecem com o tempo. Sou um lutador pela vida com vontade de viver e poder ajudar o próximo”. Edição N° 195 - Março de 2011
- Um sonho se concretizou
As pessoas que estão em situação de rua pensam, sentem, falam, sonham e escrevem, contrariamente ao que a sociedade pensa a respeito delas: “não-gente”, excluídas, decaídas, supérfluas, pessoas que devem ser retiradas da frente ou mesmo exterminadas. Na realidade, a concentração de renda, o desemprego, a violência, a fome, a mortalidade infantil, a miséria são resultados do desenvolvimento econômico que leva grupos sociais a se incluírem na sociedade dessa forma perversa. Preconceitos, discriminações, desconhecimento afastam grupos sociais diferentes e quebrar barreiras, estabelecer diálogos, abrir debate sempre estiveram presentes dentre as diversas inquietações do jornal no sentido de fazer valer o protagonismo das pessoas em situação de rua. Oficinas de redação nos serviços, convites pessoais, cursos e outras tentativas foram feitas. No entanto, após o massacre de agosto de 2004, nasceu a seção “Direto da Rua” como expressão do sonho do jornal O Trecheiro de possibilitar que as pessoas que estão ou estiveram em situação de rua pudessem se expressar diretamente com o leitor sem intermediários. O primeiro a escrever foi o Sebastião Nicomedes Oliveira que contribuiu de abril de 2005 a dezembro de 2008. O espaço foi consolidado e outros puderam dar continuidade. Agradecemos a todos os companheiros que contribuíram diretamente escrevendo nesta seção: Átila Robson Pinheiro (SP), Ednaldo Novaes (em memória), Jonas Ferreira Bahia (SP), Maciel Silva (RJ), MNPR Paraná, Salvador d´Acolá (SP), Samuel Rodrigues (MG), Sebastião Nicomedes Oliveira e Tula Pilar Ferreira (SP). Depoimentos O Trecheiro faz parte da nossa caminhada. O durante e o pós-rua. Para mim é uma satisfação tremenda fazer parte da família Rede Rua e do jornal onde tivemos o prazer de assinar as primeiras temporadas da coluna DIRETO DA RUA. São tantas emoçõessssssssssss. Sebastião Nicomedes Oliveira, o Tião O jornal O Trecheiro contribui para contar a minha trajetória e agrega informações de vários movimentos sociais na mesma luta social, a busca por direitos, as discriminações sofridas, as políticas públicas intersecretariais e transversais para a população de rua nos três níveis de poder. Espero que ainda... possamos ler no jornal O Trecheiro, notícias sobre a diminuição da violência contra a população de rua por parte de agentes da segurança pública que, impunemente, seguem violando direitos e destruindo vidas. Átila Robson Pinheiro Meus sinceros agradecimentos pela edição de julho de 2006, com uma linda foto minha feita pelo Alderon, na capa, por ocasião da viagem à África do Sul para participar da Homeless World Cup na cidade do Cabo. Foi difícil por ser uma mulher em meio a nove homens e a maioria de nós em situação de vulnerabilidade social. Vivências me ensinaram que em momentos difíceis nunca devemos virar as costas nem para os outros, nem para os problemas. É preciso saber resolver e tomar atitudes que beneficiam o grupo. Parabenizo o O Trecheiro pelos cuidados com nossos irmãos em situação de rua, denunciando maus-tratos e preconceitos. Agradeço por publicar meus textos, fotos em momentos de luta e participação que fizeram melhorar minha vida. Carinhosamente. Tula Pular Ferreira Edição N° 200 - Agosto de 2011