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Ao final da rua

Alderon Costa

Atualizado: 22 de jan.


Em meio a vários galpões usados para depósito de alimentos, bem no centro da cidade de São Paulo, uma rua é o cenário de nossa “vida no trecho” desta edição. Ao final da rua, um lugar tradicional de despejo daquilo que não se vende mais. São batatas, cebolas, melancias, ramas de alho que já não podem mais ser comercializadas. Mas, para as pessoas que sobrevivem por ali, é um banquete. Esses alimentos até podem ser vendidos se forem limpos.

Esse espaço já foi uma grande favela, mas atualmente apenas algumas pessoas em situação de rua dormem por ali. O setor de limpeza urbana da cidade volta e meia está levando quase tudo que as pessoas juntam. Mas eles sempre estão naquele cantinho, não desistem e insistem em viver por meio do trabalho ou por uma esperança que às vezes não conseguimos entender em meio a tanta tragédia. É o que vamos ler com a pessoa que encontrei na manhã do dia 26 de outubro de 2010.

Ao passar por aquele cantinho, chamou-me a atenção um grupo de três pessoas sentadas, conversando e rindo e ao fundo uma intervenção de grafite. Das três pessoas que ali estavam, dois autorizaram contar um pedaço de suas histórias para mostrar que são pessoas e como tal também têm suas tragédias e esperanças.

Marcos Perejão dos Santos trabalha de “carroceiro”, catador de material reciclável, de onde tira seu ganha-pão de todo dia. “Infelizmente, do jeito que está a situação não dá. A polícia e o rapa estão vindo e tomando mercadoria nossa”, reclama Perejão. Segundo ele, nos últimos anos tem sido difícil trabalhar nas ruas de São Paulo. “Eu estou trabalhando, mas na situação que está, estamos perdendo a situação de vida. Porque a gente é chamado de mendigo, maloqueiro e ladrão. Só estou pegando material do lixo. Se tirar os carroceiros da rua, o que vai acontecer”, questiona Perejão.

Assim é a vida de quem mora na rua ou trabalha nela. É a violência e a perseguição da Prefeitura que leva as carroças e, muitas vezes, até pertences pessoais. Segundo Parejão, “Vida pior que isso só a vida de Jesus que viveu de pés no chão, viveu 33 anos sofrendo por nós. Enquanto Deus der o sol, a luz e a vontade de trabalhar, eu vou vivendo”.

Parejão nasceu no Paraná, em Paranavaí e foi criado em São Paulo. Chegou a concluir o ensino médio. “Cheguei nesta vida por uma `conjugação´ de marido e mulher. Tinha tudo, mas a situação de vida com mulher me levou a esta vida. Foram dois casamentos com papel passado e outros. Tenho seis filhos. Vim para a situação de rua no meu último casamento. Minha esposa, Ana Maria de Melo, veio para São Paulo arrumar uns documentos nossos e uma carreta passou por cima dela aqui perto, na Avenida do Estado”, declara Perejão.

A esperança faz parte da vida dessas pessoas e, muitas vezes, até questiona a sociedade consumista. “Espero que Deus continue me dando o suficiente”, conclui Perejão.  




Deuslírio Barbosa dos Santos, baiano de Planalto, cidade que fica próxima de Vitória da Conquista, amigo de Perejão também mora no final da rua. Foi morar nas ruas porque se separou da mulher. “Minha vida era normal, trabalhava no Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas (IBEP), mas fui demitido”, declarou Deuslírio. Segundo ele, sempre agradece a Deus depois da meia-noite por mais um dia de vida. Ainda não conseguiu uma ajuda para ir para um centro de recuperação.


Edição N° 192 - Novembro de 2010

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