O cerco está fechado
- Comunicação Rede Rua
- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Para onde ir? Não tem lugar nesta cidade para quem é pobre? Qual a saída? Não tem muitas saídas! Uma vez na rua, sair dela se torna uma tarefa muito difícil, cara e complexa. Enquanto não houver uma mudança de cultura de políticas públicas essa situação vira um círculo vicioso de um faz de conta que você superou a rua. O que se vê é que as políticas públicas que temos hoje são justamente para manter as pessoas na mesma situação, ou piorar a vida delas. Não é que a política pública tem a intenção, o objetivo de fazer isto, mas ela leva as pessoas a um maior sofrimento a cada tentativa de superação. Fica parecendo que ela fracassou mais uma vez!
Não sei se me faço entender. Vou tentar explicar melhor. Uma família ou pessoa não consegue mais pagar aluguel ou fi car na casa onde estão, sem essas alternativas a solução possível é ir morar numa barraca ou simplesmente nas calçadas, praças ou marquises, ou seja, em situação de rua. Isto sem levar em conta as condições de saúde de cada pessoa que, normalmente, já estão muito prejudicadas até pelas condições de sobrevivência.
Daí entra num programa da prefeitura ou do governo federal, como o bolsa família, que, sem estar associada a nenhuma outra política como as de moradia, de fato não possibilita nenhuma mudança significativa para a família ou pessoa, apesar de ser uma política importante. A maioria dos programas ou políticas públicas são incompletos e temporários. Criar uma política pública de transformação requer disposição política, orçamento, participação, transparência, criatividade e abertura para as correções posteriores. Ainda se trabalha com a ideia de inserção na sociedade, volta para casa ou mercado de trabalho, sem analisar a realidade da sociedade cada vez mais excludente e de um mercado exigente e restrito.
De fato, na maioria, uma vez em situação de rua, sempre na rua. Como aquele bordão cada vez mais comum: “eu saio da rua, mas a rua não sai de mim”. É exatamente isto que está acontecendo com muitas pessoas que entram em grande parte das políticas públicas existentes.
Já adianto que o albergue, centro de acolhida, casa de passagem são políticas emergenciais. Infelizmente, hoje, estão praticamente sucateadas pela falta de investimentos e pelo aumento da demanda. Estas são políticas de manutenção. Poderiam ser uma porta de saída, de empoderamento das pessoas. Poderia! Mas, o que vemos são espaços de “acomodação” no mais profundo sentido dessa palavra.
As políticas que poderiam ser de vanguarda, que surgem como um complemento ou até como inovação, como a locação social, e, em São Paulo, o programa Auxílio Reencontro, um tipo de auxílio aluguel e de trabalho, passam pela mesma crítica. Não são programas que enfrentam a realidade de quem está quase na rua ou que queiram sair dela. A começar pela sua implantação, que normalmente é incompleta e temporária. Dá-se o auxílio, mas não existe apoio na mudança de vida, na compra dos móveis, na ajuda financeira inicial, no acompanhamento real ou na possibilidade de se vislumbrar uma solução mais definitiva após 2 anos ou 3 anos. A política é temporária e restrita à assistência social, enquanto deveria estar atrelada a outras secretarias para dar um caráter mais definitivo.
O fato é que a situação das pessoas vem piorando e assim, a cidade continua a ter cada vez mais pessoas em situação de rua.
Edição N° 301 - Junho de 2025
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