
A ideia de um jornal de rua, de fato, surgiu alguns anos antes de sua materialização. Era parte mais ampla de um projeto de comunicação com, para e a serviço da população de rua.
A administração do prefeito Jânio Quadros (1985 a 1988) foi um período terrível para as pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. Por meio das chamadas “Operações Limpeza” no centro de São Paulo, o prefeito enviava sistematicamente carros-pipas com jatos de água para limpar ou afastar a população do centro da cidade. Os barracos de madeira e papelão, na maioria das vezes, eram destruídos e incendiados. A, então, recémcriada Guarda Municipal foi motivo de muitas contendas e confrontos policiais.
Por outro lado, a indignação tomava conta de indivíduos, comunidades e organizações e fazia suscitar iniciativas de solidariedade e proximidade para com a população de rua.

A truculência do poder público colocava em evidência a visão desfocada como grande parte dos meios de comunicação tratava o tema.
Na ocasião, Alderon Costa, um dos fundadores do jornal e atual editor tinha o hábito frequente de ir às ruas, circular pela cidade, dialogar com as pessoas e documentar por meio de fotos e vídeos a realidade vivida por essa população.
Uma das primeiras produções foi um slide (hoje powerpoint) de conscientização que intercalava imagens e o conhecido poema de Manuel Bandeira intitulado “O Bicho”.
Vi ontem um bicho na imundície do pátio catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava: engolia com voracidade. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.
A eleição de 1988 trouxe novos ventos para a cidade. Pela primeira vez uma mulher assumia a direção da segunda maior cidade da America Latina, tornando-se a primeira e pioneira em termos de projeção internacional. Luiza Erundina de Souza (1989-1992), migrante nordestina, assumia o poder com grande sensibilidade social e aberta a projetos de cidadania para a população de rua. Para a Supervisão Regional Sé/ Lapa da Secretaria do Bem- Estar Social foi convocada Cleisa Moreno Maffei Rosa que, de modo inteligente soube articular poder público, ONGs e movimentos sociais.

De uma parceria entre poder público e ONG ligada à Igreja Católica nascia o Centro de Documentação e Comunicação dos Marginalizados (CDCM), projeto de comunicação a serviço da população de rua de São Paulo.
Os primeiros dias de trabalho geraram um pequeno folheto batizado com o nome de O Trecheiro. Hoje, mais maduro e com uma fisionomia diferenciada ele entra em sua fase adulta. É apenas o começo de uma história a ser contada. Parabéns ao O Trecheiro! Há, ainda, muito trecho a percorrer!
Edição N° 200 - Agosto de 2011
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