Vida e dignidade nas ruas de São Paulo
- Rinaldo Santos
- 10 de jun.
- 2 min de leitura
No coração da cidade de São Paulo, ecoaram clamores de fé, dor e resistência.

No dia 18 de abril, a Via-Sacra do Povo da Rua – Peregrinos da Esperança reuniu pessoas em situação de rua, militantes, pastorais, movimentos populares, ONGs e apoiadores. A caminhada começou na Praça do Patriarca, centro de São Paulo, ao lado da Prefeitura e seguiu em direção à Catedral da Sé, trazendo nas paradas orações, denúncias e situações de esperanças de quem carrega a cruz cotidiana da exclusão social.
A primeira estação foi diante da Prefeitura de São Paulo. Ali, o padre Júlio Lancellotti clamou por respostas concretas do poder público:
“Tem muita gente na rua, muita gente que não tem onde viver, onde fi car. Onde comer? Como trabalhar? O povo da rua exige respeito e respostas humanizadas.”
O grito por políticas públicas efetivas reverberou com força. Lirio, participante da Casa de Oração, denunciou o descaso com pessoas neurodivergentes em situação de rua. “A Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS está sendo rasgada na nossa cara todos os dias. Não temos suporte. Eu fui desligado em pleno setembro amarelo, com pneumonia, num quarto mofado.”
A procissão seguiu até a Secretaria de Segurança Pública. Lá, a violência institucional foi o tema central. Pe. Júlio lembrou casos de brutalidade contra ambulantes, como o assassinato do Ngange Mbaye, imigrante senegalês que trabalhava como vendedor ambulante no Brás. Foi lembrado da situação do da favela do Moinho, que fi ca na região da Luz e está passando por um processo de expulsão do centro. “Chega de violência! Nossa solidariedade aos irmãos da favela do Moinho,” lembrou pe. Júlio.
Luiz Kohara, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, também denunciou o despejo injusto das famílias da Favela do Moinho. “São pessoas trabalhadoras, há mais de 30 anos no mesmo lugar, sendo empurradas para longe. Isso é um despejo maligno contra o ser humano.”
No Largo São Francisco, em frente à Igreja dos Franciscanos, os participantes fi zeram uma oração. “Paz e bem, Francisco. Nós somos teus irmãos. Defende a nossa vida junto com Jesus.” Também foi lembrado que “a casa de São Francisco é a nossa casa. São Francisco é irmão dos pobres.”
A caminhada seguiu até as escadarias da Catedral da Sé, onde foi realizado o encerramento. Irmã Débora Luz, representando a Rede Rua, sintetizou o espírito da caminhada. “Nós não somos da rua. Estamos em uma situação. Esperançamos sair dela. A nossa esperança é por uma casa, por saúde, por respeito. A gente não quer pena. A gente quer viver.”
E a procissão foi para o momento final dentro da Catedral da Sé, próximos ao altar, onde foram feitos alguns testemunhos. Destaque para a fala de uma mulher sobrevivente da violência nas ruas: “Mulheres na rua são as que mais sofrem. Hoje eu agradeço por estar viva. Graças a Deus.”
Frei Wagner Sassi, deixou uma mensagem final. “Devemos ser um sinal de cuidado, de luta por direitos, por justiça, por vida plena. Todos somos peregrinos da esperança.”
Edição N° 301 - Junho de 2025
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