

Nesse espaço limitado, o final dessa história termina com o nascimento de Athos Daniel Pereira Leite, hoje com três meses de idade. Sua mãe é Jaqueline Pereira e seu pai Marcelo Leite Santos de Matos. Eles moram num quarto no centro de São Paulo. Recentemente, saíram na mídia, deram entrevistas e suas fotos, resultado de um curso, foram leiloadas numa galeria. “Nunca imaginava ir à Rua Oscar Freire. Conhecia esta rua pela televisão. Um dia vi uma foto minha, assinada, numa exposição, com uma grade escrita artista: meu nome e o da Jaqueline. Aquilo para mim e para a Jack foi tudo! Nem o dinheiro do leilão foi tão gratificante. O dinheiro do fundo acaba!”
No momento, estão participando da segunda fase do curso de fotografia do Instituto Brasis. Atualmente, suas fotos estão na exposição “Fendas da Cidade” no Espaço Cultural do Conjunto Nacional.
Marcelo, 29 anos, nasceu em Itabuna (BA), tem seis irmãos e seus pais ainda estão vivos e continuam na Bahia. Saiu para o trecho ainda jovem, com 16 anos. Trabalhou como garçom em vários restaurantes de Porto Seguro. Depois de inúmeros problemas pessoais resolveu correr atrás de uma oportunidade. “Eu sou gente. Estão achando que eu não sou mais gente, mas ainda eu sou gente”.
Assim, veio para São Paulo em busca dessa oportunidade. Inicialmente, teve que ir morar num albergue, para não ficar na rua. “O mais importante é que aqui em São Paulo eu me reencontrei”.
Quando chegou, ainda fazia uso de drogas, mas o que mais lhe ajudou foi “a cultura das pessoas que estavam ao redor e a própria cultura dentro de mim”, declarou Marcelo. Ele se envolveu com as peças de teatro do albergue Arsenal da Esperança, em particular o grupo de teatro “Alto do Circo”. “O teatro – as pessoas não sabem – me deu um incentivo muito grande. Ver aquelas pessoas que têm condições no meio do povo, entre os albergados para poder fazer peça de teatro, isso me emocionava”.
Marcelo é um dos frequentadores do Ponto de Encontro e Cultura, coordenado pelo Metuia, que acontece toda segunda-feira, das 17 às 21 horas. “Comecei a me ocupar na OCAS e no Restaura-me, na oficina do Tião e, também, o pessoal do Metuia que me deu um incentivo de que vale a pena que eu existo”.
Marcelo disse que para vender a OCAS ele precisava de parceiro, porque sozinho ele não conseguiria. “Então, além de participar das oficinas do Restaura-me, vendia água. Nesse período, encontrou a Jack, que não estava na rua e tinha acabado de perder o emprego”. Desse dia em diante, os dois ficaram juntos e agora já são três com a chegada do Daniel.
“Agora o pai dele vai estudar, se formar e ele vai ter muito orgulho do pai. Não vou precisar fazer nenhuma coisa errada”.
Edição N° 194 - Janeiro / Fevereiro de 2011
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