O vereador Antonio Carlos de Melo Sato, 38 anos, conhecido como Toninho Kalunga por usar camisetas do Corinthians com o patrocínio da Kalunga, nasceu e vive na cidade de Cotia em São Paulo. Seus pais, João Pereira e Maria do Carmo, saíram de Alagoas por conta da seca nordestina nos anos 60 e 70 e vieram para São Paulo. “Meu pai era analfabeto funcional e a autodidata. Ele entrou numa empresa como auxiliar de faxineiro e saiu como encarregado do setor de ferramentaria. Ele aprendeu tudo olhando”!
Em 1987, depois de 17 anos batendo cartão, seu pai resolveu voltar para Alagoas. Queria voltar para a agricultura. Segundo Toninho, o pai vendeu um telefone e comprou uma casa em Olho D´agua das Flores no estado de Alagoas. “A gente fala que ele mora debaixo do telefone”.
Toninho foi com os pais, mas não deu certo, começou a beber e fazer uso de drogas. Resolveu voltar e trabalhar em Cotia. “Com o trabalho consegui sobreviver, mas quando fiquei desempregado, fui parar na rua”, lembra Toninho. Esse processo de rua foi se agravando, deixou o barraco do seu pai e passou a viver somente na rua.
Num dia, na Praça da Árvore, à noite, ao sair do Metrô foi abordado por quatro policiais militares que lhe deram uma surra. Eles queriam saber para onde ele estava indo. “Perguntaram para onde estava indo e respondi que não estava indo para nenhum lugar”, recorda Toninho. Daí começou a pancadaria de verdade. Os policiais perderam o controle e batiam com muita violência. “Eles me derrubaram, eu levantei porque tinha medo de cair e eles me matarem. Quebraram todos os meus dentes com o cassete”. Segundo Toninho, as pessoas que transitavam começaram a se incomodar com aquela violência. Um senhor interveio e me deu um dinheiro e insistiu que voltasse para Cotia dizendo que aqui vão acabar te matando”, comenta o vereador.
Voltou para Coita e dali para frente sua vida começou a tomar outro rumo. “Eu não tinha ninguém, nem pai, nem mãe e numa hora dessa procurar parente não ia adiantar muito, pois seria difícil eles acreditarem nesta história”, recorda Toninho. Depois daquela violência ficou tentando entender porque tinha apanhado.
No domingo seguinte a este fato, Toninho foi à igreja onde já era conhecido por perturbar os fieis e o padre por conta de suas bebedeiras. “Hoje, pensando naquilo, vejo que era um grito de socorro”, reflete Toninho. Mas naquele dia, foi diferente, ouviu a leitura do Filho Prodigo e achou que sua a história era semelhante. Ainda se lembra da conversa que teve com o padre Daniel Balsan para tentar entender porque tinha apanhado da polícia. “O padre me falou dos Direitos Humanos e daí comecei a me interessar por esse negócio”, reflete.
Depois dessa conversa, Toninho começou a participar de reuniões de grupos de jovens, militou na Pastoral da Juventude, onde conseguiu uma indicação para trabalho. Sua vida começou a mudar. Trabalhou em sindicatos, militou no Partido dos Trabalhadores e depois aproveitou sua experiência de rua e passou a integrar o Conselho Tutelar em Cotia onde trabalhou até 1998.
Em 2004, saiu candidato a vereador por Cotia. “Fui eleito e, em 2005, fiz uma denúncia do esquema de funcionários fantasma que já tinha desviado muito dinheiro da prefeitura. A policia federal entrou nas investigações e eu recebi muitas ameaças de morte”, declara Toninho. Atualmente, o mandato do Toninho atua na questão ambiental, em particular, contra a Sabesp que, segundo Toninho, cobra a taxa de esgoto e o despeja nos mananciais.
Sua luta pelos Direitos Humanos não só continua, mas ampliou. “Não é apenas a defesa da vida, mas a defesa de uma vida integral. É lutar por todos os direitos, inclusive a problemática de quem está na rua. A população de rua ainda não é em número suficiente para incomodar os políticos. Eles incomodam o olho, mas não o poder porque não estão organizados. Então, é importante a ação dos direitos humanos para eles passarem a incomodar. O morador de rua é aquele que eu tenho que servir com mais qualidade e atenção porque ele é o centro do direito pelo qual luto. Ele deve ser olhado não com pena, mas como um sujeito de direitos. Eu sou pago pelos impostos de quem também sobrevive na rua”, concluiu o vereador que já foi um trecheiro de rua e agora é um trecheiro dos Direitos Humanos.
Edição N° 186 - Fevereiro e Março de 2010
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