No mês de setembro de 2010, o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), técnicos do Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional da População em Situação de Rua e organizações sociais realizaram pesquisa sobre trabalho e geração de renda para a população em situação de rua da cidade de São Paulo. Foram aplicados 100 questionários e constituídos três grupos de discussão com pessoas que frequentam organizações sociais que participaram da pesquisa.
Antecedentes
Esta pesquisa foi resultado de um esforço conjunto da sociedade civil. A ideia surgiu no âmbito do Projeto de Capacitação e Fortalecimento Institucional. Esse projeto promoveu 10 encontros entre o MNPR/SP e organizações sociais para discutir os desafios enfrentados tanto pelas iniciativas de trabalho e geração de renda levadas pelas entidades e poder público, assim como as dificuldades enfrentadas pelas próprias pessoas em situação de rua para conseguir trabalho e permanecer no mesmo. Após esses encontros, o grupo decidiu realizar a pesquisa para “ouvir diretamente a rua” nas suas expectativas, dificuldades e experiências com relação ao mundo do trabalho e da geração de renda.
Principais resultados
A pesquisa confirmou o dado revelado pelo Censo da FIPE (2009) para a cidade de São Paulo: quem está na rua são os trabalhadores! 96% dos entrevistados trabalhavam de forma regular antes de ir para as ruas e 90% continuam trabalhando na rua, principalmente com a catação e venda de material reciclável (35%), carga e descarga (16%), serviços de manutenção/ reforma/construção (9%) e lavagem e guarda carros (8%). Apenas 5% declararam como sua principal forma de obter dinheiro “pedindo nas ruas”.
Quando perguntados sobre o significado de ter um trabalho ou emprego, 35% o associaram a “uma oportunidade para melhorar de vida” e 25% a “ser reconhecido pela sociedade”. Dessa forma, a maioria associou o trabalho com oportunidade de saída das ruas ou de ser reconhecido como um cidadão. Já a dimensão mais imediata foi menos citada: sobrevivência (16%) e ganhar dinheiro (12%). A grande maioria (70%) gostaria de trabalhar com carteira assinada, como mostra o gráfico a seguir:

As principais dificuldades para conseguir emprego são:

Os dois maiores objetivos citados para os próximos seis meses, empatados com 33%, foram “alugar um quarto/conseguir moradia” e “conseguir trabalho”, ambas as dimensões relacionadas com a saída das ruas. Veja gráfico abaixo:

De acordo com o resultado do questionário, as atividades que as pessoas têm mais interesse de trabalhar coincidiram fortemente com as atividades que elas têm mais experiência de trabalho, que são: serviços de manutenção / reforma / construção, serviços gerais e técnicos e profissionais. Já durante os grupos de discussão, apareceram novas atividades como agentes de turismo, jardineiros, padeiros e serviços de limpeza. Segundo a pesquisa, 49% não têm qualificação profissional na atividade que tem experiência, demonstrando necessidade de cursos de qualificação profissional.
As organizações sociais que participaram com o MNPR na pesquisa foram:
Associação Minha Rua Minha Casa (OAF)
Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) – Mooca
Centro Franciscano e Recifran (Sefras)
Comunidade São Martinho de Lima
Coorpel (Cooperativa de Material Reciclável ligada ao Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos)
Políticas públicas
Durante as discussões em grupo foram levantados aspectos fundamentais para pensar políticas públicas de trabalho e geração de renda:
Aprofundar o conhecimento sobre a população em situação de rua.
Para propor cursos profissionalizantes é necessário cruzar a expectativa das pessoas com a oferta de vagas do mercado.
Encaminhar para vagas de emprego/trabalho, ajudando a superar dificuldades como a falta de comprovante de residência, entre outras.
Necessidade de acompanhamento psicossocial para garantir a continuidade no emprego/trabalho.
Além dessas questões, a intersetorialidade das políticas públicas foi destacada como fundamental, isto é, que as políticas de trabalho estejam articuladas com as políticas de Assistência Social, Saúde, Educação e Habitação. Somente com políticas articuladas será possível a “saída das ruas” e reinserção no mercado de trabalho.
Mais informações sobre a pesquisa, acesse www.falarua.org
Edição N° 192 - Novembro de 2010
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