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Terremoto, tsunami e vazamento nuclear

Arlindo Pereira Dias
Parte I - Os refugiados econômicos de Nagoya, Japão

O terremoto de 11 de março no Japão, seguido de tsunami e vazamento nuclear colocaram o Japão em evidência na imprensa mundial. Vivi os efeitos dos abalos sísmicos no centro da cidade Nagoya (700 km do epicentro). Naquela tarde, eu andava pelas ruas da cidade e me contagiava pelo verde e amarelo das bandeiras que encontrava pelo caminho quando tive uma sensação de vertigem durante trinta segundos. Procurei um local onde pudesse me apoiar e “esperar que a tonteira passasse”. Após alguns minutos entrei em uma das lojas de produtos eletrônicos. Ao assistir o canal de TV que transmitia a tragédia ao vivo pude compreender o que acontecera comigo.

Viver em uma ilha cercada de água por todos os lados; correr riscos de ocupação por inimigos; estar ameaçada por catástrofes naturais; ter vivido a tragédia como Hiroshima e Nagasaki são fatores que fi zeram com que o Japão se tornasse a segunda economia mundial. “O povo japonês é como águia. Quando pensa estar sem asas para alçar vôo, consegue realizar um vôo mais alto ainda. Por ser disciplinado e organizado consegue superar diferentes situações”, explica Anselmo de Melo, missionário brasileiro há sete anos no país.

 

O projeto

Como país desenvolvido, o Japão, no entanto, não consegue esconder a contradição intrínseca do sistema capitalista, a exclusão de grande parte da população das benesses do mercado. Nagoya, uma cidade com 2.215.000 habitantes, conta com, aproximadamente, 1.300 pessoas em situação de rua.

O padre Takea Motoi, missionário da Congregação do Verbo Divino é um dos fundadores do projeto Sasashima Kyousei-kai. Ele explica que Sasashima é o nome do bairro e a palavra Kyousei-kai significa “viver juntos”. O projeto consiste em defender os direitos dos moradores de rua, resgatálos das ruas e dar suporte para a sua inserção social.

 

Sopa na rua

Ao lado da catedral de Nagoya, um grupo voluntário de 10 pessoas prepara a sopa, que tem apoio da Second Harvest Nagoya, uma espécie de Banco de Alimentos que os recolhe e redistribui às organizações sociais. Às 18h30, três carros deixam o local. Os termômetros marcam cinco graus.

Representantes da ONG chegam e se instalam no local e, em poucos minutos, um grupo assiste aos vídeos ali disponíveis. Outro entra na fi la para um jogo de sorte que oferece uma barra de chocolate ao vencedor. Em outra barraca, as pessoas cantam “karaokê”. Num outro canto, profissionais da saúde atendem aos doentes. Após duas horas de convivência, o jantar é servido com os tradicionais “hashis” (palitinhos japoneses).

 

Realidade da rua

Edílson Shinozaki, nissei conhecido por Dinho, nascido no bairro da Liberdade em São Paulo e há 10 anos no Japão, foi nosso guia. Ele nos explica que “a maioria das pessoas em situação de rua em Nagoya são homens com mais de 50 anos e cerca de 20% têm menos de 50 anos. Não há informações sobre crianças e adolescentes. Uma boa parte tem família em situação econômica razoável. Apesar disso, não recorrem a ela. Eles são ignorados pela maior parte da sociedade e pelos órgãos públicos”.

Para Takea Motoi, a razão da existência dos moradores de rua é econômica: “A sociedade japonesa precisa de gente nestas condições para manter em funcionamento a sua estrutura econômica. Os contratos de trabalho são muito vulneráveis. Entre eles estão os de mulheres que fogem da violência doméstica e de pessoas com deficiências”, acrescenta. Talvez por isso, Matsumoto os defina como “refugiados econômicos”.

Em nossa visita pelo centro de Nagoya, uma senhora que não quis se identificar, nos explicou que ela e o esposo são líderes de um movimento organizado e coordenado pelas pessoas em situação de rua em defesa dos seus direitos. “Foi o único modo de sermos atendidos e estabelecer um canal de diálogo com as autoridades”, ressaltou a senhora.


A matéria completa pode ser encontrada no site da Rede Rua (www.rederua.com.br). No próximo número, publicaremos uma entrevista com o senhor Matsumoto Hiroshi.  



Edição N° 196 - Abril de 2011

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