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“Um lutador pela vida”

Cleisa Rosa

Evaristo Gonçalves tem 62 anos, nasceu no Brás em São Paulo, casou-se aos 24 anos de idade, teve três filhas e permaneceu casado durante 17 anos. Morou também em Blumenau onde nasceu sua filha mais nova.

Depois de altos e baixos profissionais, familiares e de saúde com uma passagem pela rua de um ano e meio, há dois anos voltou ao trabalho. Dessa vez numa empresa de motoboy (TUF), desde 2009, a convite do dono, Danilo Santana, um amigo que fez na Comunidade da Igreja São Miguel Arcanjo.

Ao iniciarmos a conversa, senhor Evaristo, falou da separação de sua esposa no início da década de 1990, período em que ficou desgostoso porque não conseguiu superar um mal-entendido familiar e perdeu o emprego. “Não gosto nem mesmo de tocar nesse assunto porque diz respeito a pessoas que morreram e sinto-me constrangido”. Senhor Evaristo disse que nunca aceitou a forma como se passou essa a separação, mas alegou que este não foi o motivo que o levou para a rua.

Depois da separação, outra decepção, a companheira com a qual vivia, fazia dois anos, o traiu. Ele saiu de casa deixando tudo. “Nessa época, também, minha mãe faleceu no Sul e quando vieram me avisar ela já tinha sido sepultada. Isso me chocou muito e foi a gota d´água. Não culpo ninguém, mas fiquei magoado. Muita coisa foi se juntando. Tive, ainda, problemas comerciais, e não tive cabeça para dar a volta por cima”.

A principal atividade que desenvolveu na sua vida profissional foi a de cerealista. “Comecei a trabalhar com 13 anos, fui empresário, tive indústria de empacotamento de bacalhau. Fui o primeiro a bolar bacalhau sem pele e sem espinha empacotado a vácuo. Na realidade, descobri um filão e como empresário cheguei a montar vários outros negócios. Por volta de 1984, fui para Blumenau para gerenciar uma cadeia de supermercados com 31 lojas e permaneci durante três anos e meio”.

Depois, senhor Evaristo andou de emprego a emprego, começou a beber de forma mais regular, não tinha estímulo de viver e a mágoa sempre o acompanhava. Por volta de 2004, foi para a rua, período em que teve uma espécie de AVC, que comprometeu os movimentos em quase 80% e foi atendido no Hospital Vergueiro. Lá, ficou quase dois meses, encontrou uma enfermeira dedicada que lhe informou sobre a “Toca de Assis” na Mooca. Assim, ficou durante dois anos morando com os missionários que cuidaram de sua saúde com os quais fez amizade, aprofundou sua fé religiosa porque já era um católico praticante.

Desde quando esteve na rua e depois na Toca de Assis, costumava frequentar a Igreja São Miguel e participava das atividades da comunidade. Lá fez amigos muito importantes para ele, como padre Júlio Lancellotti e Danilo, que lhe ofereceu além do trabalho, um lugar para morar dentro da própria empresa.

Senhor Evaristo falou dos amigos que encontrou na rua. “Conheci advogado, dentista, desenhista, um que tocava violão e todos tinham uma historia, são pessoas super inteligentes e com talento. Eu acredito que ninguém vai parar na rua por opção de vida”.

“Devo muito ao Danilo que me deu força para eu me recuperar socialmente. Hoje estou com muita motivação para viver, tenho certeza que não vai passar deste ano o encontro com minha filha. Não adianta querer tudo, as coisas acontecem com o tempo. Sou um lutador pela vida com vontade de viver e poder ajudar o próximo”.  



Edição N° 195 - Março de 2011

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