Falta de vagas, aumento de pessoas que moram nas ruas, filas nas portas dos albergues, baixas temperaturas, condições inadequadas de serviços e inexistência de políticas públicas que propiciem saídas da rua levaram vereadores da “Frente Parlamentar” de São Paulo a conhecerem de perto a realidade das pessoas que moram em situação de rua.
No dia 24 de maio, os vereadores Chico Macena (PT), Sandra Tadeu (PV) e Jamil Murad (PCdoB), acompanhados por representantes dos movimentos da população de rua e imprensa foram conhecer os albergues Lígia Jardim e Pedroso, na área central da cidade São Paulo.
Ao chegarem ao Lígia Jardim, membros da Frente foram recebidos pela funcionária Cristina Guedes. Depois de muitas explicações, os vereadores entraram, mas em momento algum puderam conversar com os conviventes. De pé no refeitório, receberam informações sobre os encaminhamentos, a falta de adaptações do espaço para pessoas com deficiência e gestantes, dentre outras.
Quando questionada sobre as filas, a funcionária Magali disse que as pessoas que dormem no Lígia Jardim gostam e acabam por ficarem na fila para garantirem uma vaga. “Muito da fila é a persistência deles quererem ficar cadastrados no Lígia”, afirmou a funcionária.
Não foi o que a reportagem do jornal O Trecheiro viu lá fora. Everton dos Santos, 19 anos, chegou às 16 horas e não tinha certeza do atendimento. “Se chegar esta hora e não tiver faltado ninguém nós ficamos para fora e foi um tempo perdido. Não tem comida, não tem cobertor e nós temos que se virar”, declarou Santos.
Já Luiz Carlos de Souza, 44, entregador de folheto que também estava na fila para tentar um pernoite, uma vaga só para aquela noite, mas não sabia se conseguiria. Segundo ele, já chegou a ficar oito horas na fila e não conseguiu vaga. “Quando a gente não consegue a vaga temos que dormir na rua e esperar passar uma comida”, comentou Carlos. Para ele, se tivesse um endereço fixo ou uma vaga permanente teria uma oportunidade para procurar um serviço e não se preocuparia com a questão de onde dormir.
Para a vereadora Sandra Tadeu (PV), a Frente tem um curto tempo para atender esse pessoal de emergência porque o inverno já está na porta e as temperaturas continuam caindo.
Com a chegada do inverno a situação se complica mais ainda. Segundo o vereador Chico Macena, presidente da Frente, se agora as pessoas precisam ficar um dia inteiro numa fila para conseguirem vagas num abrigo, como eles vão ficar com a chegada do inverno”?
Após a visita no Lígia Jardim, os vereadores seguiram para o Albergue Pedroso, onde foram barrados por funcionários. A entrada só foi liberada após uma hora, quando um oficial da Polícia Militar, lotado da Câmera Municipal chegou ao local.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou que a decisão de barrar os vereadores foi do albergue. A Smads disse, ainda, que o local é público e pode ser vistoriado por membros da Câmara Municipal a qualquer momento.
Segundo o vereador Jamil Murad (PCdoB), “a Prefeitura criminaliza as pessoas em situação de rua ou as coloca como pessoas incontroláveis porque são consumidoras de álcool e drogas, mas aqui você vê que o único problema é a pobreza”.
Edição N° 188 - Junho de 2010
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