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10 anos do Movimento dos Catadores

Davi Amorim

Sabemos que o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) é importante para a nossa organização social, pois antes do MNCR, nós catadores(as), não passávamos de verdadeiras marionetes nas mãos de políticos profissionais, ongueiros, governantes e dos patrões do lixo. Tivemos vários momentos em que estávamos sendo explorados, enganados e sequer, podíamos ver isso. Apenas sentir, aceitar e calar.

Vamos relembrar um pouco, onde cada um de nós estava há 10 anos atrás?

A maioria de nós vivíamos em lixões, sem condições dignas de trabalho e sujeitos a todos os riscos impostos pela situação de exploração da nossa categoria. Nessa época nem se ousava pensar que os catadores(as) eram uma categoria.

Até meados do ano 2000, nossa tarefa na cadeia produtiva era simplesmente catar. Se perguntávamos para qualquer companheiro, “você gosta de ser catador”? Entre as várias respostas, o que se constatava era que a maioria de nós estávamos catando por falta de oportunidade de trabalho, marginalizados pelo mercado formal de trabalho em que poucos têm tudo e muitos quase nada, vindos do interior, negros, brancos, mulheres, crianças, idosos, analfabetos ou com pouca escolaridade, concentrados nas grandes metrópoles do País.

Foi em 2001, que conseguimos dar vida, cara, cor e rosto a nossa organização, o MNCR, cujo nascimento foi cheio de problemas e poucas pessoas para resolvê-los. Desde o início, os princípios de protagonismo de classe com a autogestão/organização nos uniram, pois os grandes desafi os éramos nós, os catadores, que deveríamos encarar com o próprio sangue, suor e força de vontade.

Com o passar do tempo e com nossas ações a todo vapor, vimos que vários grupos da sociedade, que antes da existência do MNCR nos viravam as costas, hoje, das formas mais inimagináveis possíveis, nos assediam para colocarem suas logomarcas e seus patrocínios.

A maioria de nós não acreditava que chegaríamos até aqui, mais fortes, maiores, mais organizados. É sempre assim, a gente é desse jeito, não acreditamos no novo, apoiamos e desconfi amos ao mesmo tempo, somos brasileiros por excelência.

Precisávamos disso, pois as difi culdades que estavam expostas aos nossos olhos apontavam para a formação de um movimento social, combativo e solidário, criando a independência dos catadores em relação aos ferros-velhos, a governos e fortalecendo a autogestão dos catadores.

Foram muitas lutas, muitas ruas tomadas, muitas prefeituras ocupadas, muitas portas fechadas que tivemos que abrir. Tudo o que conquistamos foi por meio da luta e da solidariedade. Somos povo e nos realizamos com outros movimentos desse mesmo povo.

São os princípios que norteiam a nossa organização. Chegamos a ser presos, fomos perseguidos, já tentaram nos comprar, mesmo com todas as condições adversas, nos mantivemos firmes em nosso propósito de justiça e de liberdade. Isso tudo só faz fortalecer cada vez mais nossa luta.

Éramos chamados de lixeiros, hoje gerimos empreendimentos autogestionários, conquistamos políticas públicas de inclusão e de valorização de nossa categoria. No entanto, muitos oportunistas procuram não reconhecer o movimento, mas querem se beneficiar das conquistas forjadas no suor do dia a dia dos nossos companheiros.

Permanecer e durar no tempo é o que vai garantir nossa vitória sobre todas essas condições injustas impostas pelos inimigos que ganham e se promovem em cima da miséria alheia. Ainda temos muitos desafios pela frente.

Vida longa ao MNCR! Viva os dez anos! Porque quem tem medo da luta não nasce! Que venham mais dez, vinte, trinta anos! Viva os catadores e as catadoras do mundo!



Edição N° 198 - Junho de 2011

 
 
 

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