Quando vai ter revista nova?
- Alderon Costa

- há 1 dia
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Essa era a pergunta que o Roberto mais me fazia nos últimos tempos. Ele viveu os últimos anos vendendo a revista Ocas, publicação que lhe possibilitava uma renda. Nos últimos meses, estava vendendo revistas antigas, mas há três meses precisou parar, pois não tinha mais exemplares à disposição.
Contava com a ajuda do Bolsa Família, que foi interrompido no início do ano, e não conseguiu reverter o bloqueio. Recebia também o apoio dos irmãos, que moram no Rio de Janeiro — lugar para onde queria ir apenas para rever a família. Dizia que voltaria logo.
Seu humor nem sempre era dos melhores, principalmente quando enfrentava dificuldades. Lutou até o fim contra o vício do álcool. Chegou a ter tuberculose, da qual se curou com muito apoio da equipe da Chapelaria, projeto da Rede Rua.
Um dos últimos encontros que tive com o Roberto foi para gravar uma fala dele sobre Maria Alice, pedagoga, terapeuta, psicodramatista que apoiava os vendedores da Ocas e faleceu no dia 26 de fevereiro deste ano. Na gravação sobre ela, Roberto fala sobre suas crenças — ou melhor, descrenças —, mas conta que, ao conhecer Maria Alice, até pensou em ser espírita para poder “encarnar o seu espírito” e continuar seu trabalho de cuidar das pessoas.
Roberto era um participante assíduo da Chapelaria Ir. Alberta, no Brás. Nos momentos bons e nos mais difíceis da vida, aquele era o seu porto seguro. Sua partida deixará um vazio para muitos frequentadores e para toda a equipe.
Roberto Francisco dos Santos, nasceu em 09/02/1967, no Rio de Janeiro de onde trazia a paixão pelo Flamengo. Seus irmãos sempre o apoiaram e várias vezes o convidaram a voltar para o Rio, mas ele preferia a vida dura de São Paulo. Dura, porque o fazia sofrer — e esse sofrimento se encerrou com sua morte, no dia 03/11. Morreu em casa, sozinho, como tantos amigos que vivem em situação de rua. Uma morte, provavelmente, muito doida.
A solidão é um mal que persegue muita gente, mas, para quem vive em situação de rua, ela é ainda mais grave e, muitas vezes, fatal. Foi encontrado pela polícia em seu quarto sozinho — exatamente o que ele mais temia que acontecesse.
Enfim, a vida é assim para muitas pessoas. Agora, só nos resta desejar que ele esteja em paz e que a família, os amigos e todos os que o conheceram guardem a imagem da pessoa boa que ele foi.
Quando a revista Ocas voltar, poderá ter sido por obra dele, do outro lado. Força, Roberto continue sua jornada. A Ocas e todos nós agradecemos por ter te conhecido.
Um abraço solidário a todos que o conheceram.




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