
O frio desse ano já deixou os “com casa” em estado de alerta. Mesmo com o conforto, casa, cama, cobertores e aquecedores, as baixas temperaturas desse ano preocupam.
Imaginem a situação dos “sem-tetos” que além do frio precisam enfrentar a incompetência dos órgãos municipais que não fazem planejamento adequado para acolher a diversidade de pessoas que são obrigadas a morar nas ruas da cidade de São Paulo. Além do mais, retiram cobertores doados por organizações sociais e lavam as calçadas de madrugada molhando pessoas e pertences.
Dona Maria Ruth Ferreira da Silva, 46 anos, nascida em Lavras (MG), há 29 anos em São Paulo e nove anos em situação de rua declara que tem problemas com drogas, mas graças à fogueira e à solidariedade ela e seus companheiros conseguem sobreviver. “Estou na rua porque são muitos problemas, envolve muitas coisas e acabou não dando certo e fui parar na rua. Ai de nós se não fossem as comunidades que trazem comida! A Prefeitura só faz tirar a gente, até os cobertores da gente eles tomam. Esta casinha que você está vendo foi feita com os cobertores que escondemos. Acordei cedo e escondi. Se ficar esperando, eles levam tudo”, declarou Ruth.

Para Ednilton Costa de Oliveira, 29 anos, foi para rua porque perdeu a família. Já passou por vários albergues e tem muitas reclamações. “Têm alguns desses lugares que os monitores tratam a gente ruim e alguns companheiros de rua não sabem respeitar a área. O albergue tem muitas regras e os moradores de rua não conseguem seguir estas normas. Corre droga e bebida dentro dos albergues. Muitos não vão para o albergue porque não querem saber de pernoite, mas vaga fixa”, reclama Ednilton.
Já para o enfermeiro desempregado, Valdir Pinto que cuida de uma senhora que fi ca sentada na passarela da Praça das Bandeiras, no Centro, o problema não é o frio, mas sim a limpeza urbana e as dificuldades com os albergues. “Então, no dia15 de julho, estava com a Maria aqui na passarela, quando deu três horas da manhã chegou um carro da GCM e nos acordaram e pediram para sair para o pessoal da limpeza jogar água pela segunda vez numa mesma noite. A placa do caminhão era EQG 7139. Não vou para o albergue porque eles difamam sua imagem e qualquer coisa colocam seu nome na lista de pessoas com problemas e o nome da gente acaba sendo riscado”, reclama Valdir.
Para Jean Manoel Carvalho de Sousa, a rua é mais limpa e segura do que os albergues. “Estou em situação de rua por falta de vaga em albergues e quando aparece são nos albergues com surto de muquirana (piolo). Não vou pegar uma cama com muquirana e correr o risco de ter minha bolsa roubada. A solução é matar as muquiranas e dar uma coisa digna. Não adianta abrir vagas e não sermos atendidos antes da meia-noite”, questiona Jean.
“Graças à fogueira e à solidariedade ela e seus companheiros conseguem sobreviver”


Edição N° 199 - Julho de 2011
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