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Santas imagens de Santo$

Alderon Costa

Atualizado: 20 de dez. de 2024


Carlos Ferreira de Lima, 51 anos, nasceu em Recife, Pernambuco. Fui pintor e metalúrgico, onde tive os dedos amputados e hoje estou afastado. Ainda não fui aposentado, mas hoje, como não tenho condições de trabalho estou como ambulante e não estou conseguindo trabalhar. E daí? Não é querendo uma desculpa, mas quero citar algo de curiosidade: sou ambulante sim, como milhares. E daí? Sou cidadão documentado e daí? Pago água e luz. E daí?

Sabemos que é nossa obrigação, do contrário, teremos a água e a luz desligadas ou cortadas. Então, que lei é essa: se não trabalharmos de que maneira pagar a água, luz, aluguel, pensão? Morar nas ruas? E daí? O que fazer?

Se a lei ampara a lei e nós que precisamos da lei? E daí?”

Carlos morou em albergue por dois meses, mas não aguentou muito tempo. “Ali não é um amparo. Sou evangélico, graças a Deus e fui para o albergue porque Deus me enviou para tirar de lá duas pessoas que estavam envolvidas no mundo das drogas. Assim que saí de lá, eles já não usavam mais drogas. Depois de cumprir minha missão já não estava mais aguentando aquela situação que tinha normas e, mesmo assim, eles deixavam passar as normas. Drogas! Ali entra drogas”! Para sobreviver, Carlos vende imagens de santos, mesmo sendo evangélico, pois entende que precisa viver.

“Até estou me preparando para falar com meu pastor. Já fui repreendido por alguns irmãos, mas eu creio que Deus me entende”. Conheceu esse trabalho de venda de imagens com uma pessoa que morava no albergue Arsenal da Esperança no Brás.

“Eu estava trabalhando de ajudante de uma banca de lanche na Liberdade. Enfrentando bandidos, sendo ameaçado e outras coisas. Não tinha onde dormir e minha roupa era guardada num cantinho da banca. Dormia no Metrô, indo pra lá e pra cá”. Saiu da banca de lanche e foi catar latinha, onde ouviu falar do albergue. “Lá no albergue tudo era de graça, mas o de graça saiu caro. Eles diziam: se quiser é assim, se você não, a porta está aberta. Claro que as normas devem ser seguidas. Teve queixa minha? Teve! Porque eu reclamava de erros dos monitores que eu via lá dentro. Eu só fui para o albergue porque insistiram para eu ir”.

Carlos teve vários problemas com o albergue. Um deles foi relacionado ao horário, pois, segundo ele, o albergue implicava com suas saídas para o culto. Com isso, achou melhor sair dali, vender suas imagens, juntar com o pouco que recebia do INSS e morar numa pensão.

“Recebo R$102,00 do INSS e pago R$ 250,00 de uma vaga de pensão. Além disso, tenho que comer e comprar roupas”.

Para completar, Carlos sofreu a mesma violência que já é comum na vida dos ambulantes no centro de São Paulo. “A Prefeitura me tomou quase R$ 200,00 de imagens, ainda me machucaram ao me segurarem por trás como se eu fosse bandido. Tá certo, meus santos não têm nota fiscal, mas será que não tenho o direito de sobreviver? E daí? Que lei é essa?

Será que Carlos não tem o direito de sobreviver após tantas tentativas de trabalho sem ter que morar num albergue? E daí?  




Edição N° 191 - Setembro / Outubro de 2010

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