“Esperando a noite chegar”
- Editorial
- 6 de ago.
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Atualizado: 4 de ago.
La Casa de Los Sueños foi inaugurada em fevereiro de 2024 e é um espaço em que todos podem sonhar.
Por: Luciana Carvalho, Miguel Angel Herrera Carapia

Com atividades culturais e oficinas gratuitas durante a semana, a Casa é uma experiência que nos convida a concretizar sonhos. Assim como diz seu convite de inauguração, “é uma proposta com espaços em branco para serem completados pelas organizações, coletivos, vizinhança, artistas e comerciantes do território. Particularmente, com os que ‘ficam nas praças esperando a noite chegar’, os que ‘habitam no esquecimento’ que são protagonistas desta experiência cultural e de desenvolvimento produtivo.”
Desse projeto nasce, em junho de 2025, a revista Paria. Como disse Walter, em entrevista para o jornal, a revista é o resultado estético da Casa. É também um convite à ação aos leitores e uma forma de contribuir com esse e outros projetos para pessoas em situação de rua em Montevideo que, segundo os dados do Instituto Nacional de Estadística (INE), em 2023 eram 3.504 pessoas.
Andreza do Carmo, coordenadora da Rede Rua compôs a mesa de lançamento e falou do sonho e da resistência em São Paulo. “É uma alegria estar aqui e poder sonhar juntos. Essa viagem longa, de resistência que fizemos tem muito a ver com a produção que vocês estão materializando aqui. E
a resistência materializada de vocês que tem muito a ver com a resistência que fazemos em São Paulo.”
“Arriba los paria del mundo”

No dia 20 de junho foi o lançamento da revista Paria, em Montevideo, a equipe do jornal O Trecheiro que esteve em Montevideo e entrevistou Walter Ferreira, educador, sonhador e fundador da Casa dos Sonhos (La Casa de Los Sueños), projeto que lançou a revista.
- Walter, pode nos falar de você e do trabalho?
Comecei a trabalhar com as pessoas em situação de rua por meio da cultura. Eu escrevo e faço teatro, trabalho com oficinas literárias. Eu não tenho formação acadêmica, minha formação vem da vida e, apesar de trabalhar em uma universidade, nunca me formei em uma. Mas tenho uma experiência ativa, uma experiência que sempre põe em dúvida o que foi aprendido, de que precisamos aprender de novo.
- Por que o nome da revista é Paria?
Quando lemos, paria hoje significa “aquele que está por fora de tudo, o último, o excluído dos excluídos”, mas sua origem etimológica vem da palavra “tamborilero”, “tocador de tambor” na língua tamil. Em La Casa de Los Sueños trabalhamos com os tamborileros, os tocadores de tambor nas nossas atividades que, em sua maioria, são pessoas negras, que historicamente estão de fora de tudo e que acabam excluídas.
Na Internacional Socialista aparecia, originalmente, a palavra paria. Dizia “Arriba los paria del mundo”, com o passar do tempo, mudaram a letra para “Arriba los pobres del mundo”. Mas são os parias do mundo que têm o potencial de uma mudança radical, que é o que buscamos.
- Como será a produção da revista?
A revista é um trabalho coletivo que surge da Casa dos Sonhos, tem hoje uma equipe pequena de 5 pessoas que pensam a revista, o estilo da revista, quem pode ser entrevistado, quais os conteúdos. É um projeto que nasce para ser autogerido, com uma equipe que deve crescer para ter no máximo 11 pessoas e em que a maioria delas tenham trajetória de rua.
- Como vai funcionar a venda das revistas?
Decidimos que as pessoas da equipe participarão de todo o processo da revista, serão criadoras da revista, saberão todos os conteúdos e nos encarregaremos de buscar na cidade e na rede que temos: pessoas, comércios, amigos, quem quer somar à distribuição e venda da revista. Ou seja, a equipe da Casa fará a busca de onde e como vender e a equipe da revista ficara com a produção.
- Como vão financiar a revista?
Em princípio, queremos que a revista se financie. Contamos com um aporte inicial, um valor pequeno que conseguimos para editar os primeiros 100 exemplares da revista. Com o valor das vendas desses 100 exemplares, conseguimos pagar esse aporte e finalizar o segundo número.
- A erradicação da situação de rua é uma utopia?
Falar da erradicação é uma provocação. No Uruguai, as políticas sociais para as pessoas em situação de rua têm algo em torno de 20 anos e em nenhum momento alguém propôs acabar com a situação de rua. E, assim se instala a ideia de que não é possível, que a situação de rua sempre vai existir. Já conseguimos erradicar a presença de crianças em situação de rua, por exemplo, então é possível.
Assista à entrevista completa:




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